Categoria: Resumo da Reunião do CA (Página 1 de 2)

Indefinições, resultados de 2015, Venda de Ativos, PLR e PDV foram alguns dos temas discutidos na última reunião do CA da Petrobrás

A reunião do Conselho de Administração da Petrobrás do dia 21 de março, durou quatro horas, das 9h às 13h e tratou basicamente dos resultados do Relatório de desempenho empresarial e das demonstrações contábeis da Empresa no exercício de 2015.

Entretanto, consegui abordar, em momentos específicos, assuntos como Venda de Ativos (Desmonte e Privatização), PLR, reestruturação, PDV, nomeações dos novos diretores executivos, redução de efetivo mínimo nas Unidades Operacionais e a famosa farra da transferência de gerentes de um estado para outro com ônus total da Companhia.

Resultados da Petrobrás em 2015

Os resultados financeiros da Petrobrás em 2015 foram mais uma vez impactados pela queda do preço do barril do petróleo e pela variação cambial. Apesar de ter aumentado em 4% a produção de petróleo e gás natural, atingindo em dezembro o recorde de 1,173 milhão de barris no Pré-Sal, a empresa amargou um prejuízo de R$ 34,8 bilhões.

Esse resultado está diretamente relacionado à redução dos valores dos ativos, que sofreram o impacto da queda de 47% no preço do barril de petróleo entre 2014 e 2015. Só em função disso, a Petrobrás perdeu R$ 49,7 bilhões, o chamado impairment (baixa contábil por perda no valor de ativos e investimentos). Ou seja, o prejuízo registrado pela empresa é essencialmente contábil. Tanto que fechou o ano de 2015 com R$ 100,9 bilhões em caixa.

Além disso, a situação da Estatal não pode ser avaliada fora do contexto internacional gerado pela crise econômica que afeta todo o mercado de commodities. A Vale, por exemplo, fechou o ano com um prejuízo de R$ 44,2 bilhões. Em todo o mundo, as petrolíferas amargaram perdas bilionárias em 2015. A britânica BP registrou prejuízo de R$ 24,9 bilhões (8,49 bilhões de dólares). A Statoil, a estatal norueguesa, perdeu R$ 19,1 bilhões (4,9 bilhões de dólares) e a norte-americana ConocoPhillips, R$ 17,1 bilhões (4 bilhões de dólares).

A crise, no entanto, afetou de forma diferenciada as empresas do setor. Os resultados operacionais das principais petrolíferas demonstram que aquelas que detêm atividades apenas nas áreas de exploração e produção, foram muito mais impactadas pela crise do que, as que atuam em diversos segmentos, como é o caso da Petrobrás. Ou seja, o desmonte da estatal brasileira não afeta só a soberania nacional, vai contra a própria sustentabilidade econômica da organização.

Venda de Ativos (Desmonte e Privatização)

A nova gestão da Petrobrás insiste em manter a meta de 14 bilhões de dólares em 2016 para a venda de ativos que já estão sendo negociados com o mercado, tendo 36 projetos já estruturados para o processo de negociação. Essa insistência é muito estranha, afinal, no atual cenário há grande oferta de ativos da indústria de petróleo e gás no mundo e, consequentemente, de preços mais baixos do que o valor estabelecido pela própria Petrobrás. Além disso, devem-se ressaltar as boas e exequíveis alternativas de financiabilidade da Empresa, que estão sendo apresentadas pelos trabalhadores no GT da Pauta pelo Brasil ao Conselho de Administração e ao Governo Federal, e a excelente capacidade de geração de caixa da Petrobrás em 2015 e para os anos de 2016 e 2017 e com o termo de compromisso assinado com o China Development Bank (CDB) para o financiamento de 10 bilhões a ser pago com o fornecimento de petróleo para empresas chinesas, em bases similares ao executado pelas partes em 2009.

Dessa forma, querem manter a decisão de vender ativos na bacia das almas sem necessidade alguma para isso, principalmente por conta das alternativas que estão sendo discutidas e as que já estão sendo implementadas.

PLR 2015

O presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, em entrevista coletiva sobre os resultados do balanço da empresa, declarou aos jornalistas que a distribuição da PLR no ano passado “era uma obrigação contratual, de Acordo Coletivo de Trabalho”, mas que agora não haverá distribuição de dividendos, nem de participação aos trabalhadores porque “no último acordo, essa condição foi retirada”.

Alguém precisa avisar ao Presidente que o Acordo de Regramento da PLR não foi alterado e, portanto, continua sim, sendo uma obrigação contratual. O Acordo prevê que “o valor a ser pago individualmente de PLR, caso a empresa não tenha lucro e todas as metas sejam alcançadas, será de metade da remuneração do empregado, acrescida de metade do menor valor pago da PLR no exercício anterior”.

Segundo informações de um gerente da área financeira da Petrobrás, durante a reunião, duas metas não foram alcançadas (Custo Unitário de Extração e Carga Fresca Processada) e a média global dos indicadores foi inferior a 100%. Por isso, segundo ele, não houve provisionamento para o pagamento da PLR aos empregados.

Reestruturação

Conforme divulgado pela imprensa e em nosso blog, o processo de aprovação da nova Estrutura Organizacional da Petrobrás, ainda não ocorreu em definitivo por conta do adiamento dessa matéria para deliberação nos dias 26/02/2016 e 14/03/2016. Talvez, essa deliberação ocorra na próxima reunião, se for colocado o ponto na pauta.

Na última reunião em que esse tema foi abordado (27/01/2016), solicitei o registro em ata do CA que aprovava apenas o modelo de governança e gestão por entender que houve avanços significativos dada a existência de um maior controle da governança, decisões colegiadas e mais compartilhadas entre a alta administração e responsabilização estatutária dos gerentes executivos por conta das decisões tomadas.
Além disso, aprovava também a possibilidade de blindar a Petrobrás de indicações partidárias de gerentes e diretores que não tem competência, perfil adequado, nem respeitam critérios de integridade, idoneidade e conformidade. Mas não aprovava a revisão da estrutura organizacional da Companhia, pois em meu entendimento restavam dúvidas em relação à fusão das Áreas de Abastecimento e de Gás e Energia, negócios completamente distintos e com suas especificidades e complexidades, sendo fundamental examinar antes o “de-para” das atividades, inclusive para que se possa ter certeza que a Petrobrás não está perdendo competências nesse movimento, como já está ocorrendo com a Construção de Poços Terrestres e Marítimos. Concordei com a redução do número de funções gratificadas, sim, até porque a relação gerente x empregados já estava em 6 para 1, e com a existência de gerentes com 3 subordinados e coordenadores sem qualquer coordenado. Situação inadmissível, tendo em vista que, além de onerar muito a organização, faz com que a sua estrutura fique ainda mais verticalizada e o processo decisório mais lento. Apesar de as mudanças acontecerem, por enquanto, na estrutura de topo da empresa a nível corporativo, nas Unidades Operacionais ainda existem os níveis “gerenciais” de supervisão, coordenação, gerência setorial, gerência, gerência geral adjunta e gerência geral.

PDV

Até então, ficamos cientes do assunto apenas pela matéria ”Petrobrás prepara novo PDV e projeta corte de 12 mil empregados” no site do Estadão, publicada no dia 17/03/2016. Infelizmente ou felizmente, algumas informações sobre esse PDV já tem circulado no seio da categoria com riqueza de detalhes, transparecendo que esse Plano de Demissão seria parecido com os que foram feitos na época de Collor e FHC. Ou seja, aberto para todos os empregados com ou sem tempo de aposentadoria pelo INSS e PETROS; com um incentivo calculado pelo tempo de empresa mais a idade do empregado, dividido por dois vezes o salário; com período de dois meses de adesão e saída, e realização de um novo e grande mobiliza com transferência compulsória.

Ao questionar sobre isso oficialmente, apenas fui informado que esse assunto ainda não foi pautado na Diretoria Executiva, nem no Conselho de Administração, mas que realmente estudos sobre um novo PDV estão em andamento com a possibilidade disso ser discutido nos fóruns decisórios da Companhia, logo após a aprovação e execução do processo de reestruturação da Empresa.

Nomeações dos novos Diretores e Gerentes Executivos

Tenho defendido que haja substituições na atual diretoria a partir de uma lista tríplice a ser encaminhada para o Conselho de Administração, via Comitê de Remuneração e Sucessão em parceria com o RH, baseada em critérios que estabeleçam o perfil adequado, as competências técnicas e de liderança necessárias para que essas pessoas possam assumir as funções mais estratégicas da Companhia.

Isso minimizaria a possibilidade de manter algumas pessoas que hoje estão na atual Diretoria ligadas com os interesses privatistas e sem as competências necessárias e capacidade de liderança sob suas equipes, como ocorre na não menos importante Diretoria de E&P que vem agindo à revelia do Governo e do próprio Presidente da Empresa, colocando em xeque o comando da Petrobrás e, em outros episódios, comemorando a agressão que sofri da PM da Bahia e Rio de Janeiro, bem como se alegrando com a crise política que o país está vivendo com o aumento das forças da ultra-direita.

Nesse sentido, a reestruturação da Petrobrás pode ser uma boa oportunidade para melhorar a alta administração da Companhia e dar novos rumos ao País com a empresa voltando a ter o seu papel social e sendo indutora do desenvolvimento nacional com a geração de emprego e renda e da engenharia e indústria nacional.

Redução de efetivo mínimo nas Unidades Operacionais

A categoria precisa ter cuidado com os diversos balões de ensaio que já estão sendo feitos nas unidades operacionais, principalmente do ABAST e E&P, pois a sanha pela redução de custos de pessoal continua de forma que em algum momento poderá atingir em cheio o coração da Petrobrás, ou seja, a sua operação.

E isso de forma atabalhoada e sem planejamento com o objetivo exclusivo de reduzir custos e sem qualquer discussão com os trabalhadores e suas entidades de classe.

Tema em discussão entre as gerências que nem com a revisão da NR 20 temos conseguido manter qualquer tipo de diálogo com a Gestão da Empresa.

Farra da transferência de gerentes de um estado para outro e plataformas com ônus total da Companhia

Nessa reunião, tive a oportunidade de fazer, formalmente, essa denúncia que tenho recebido de diversos petroleiros do País alertando sobre o prejuízo ainda não calculado que esses empregados com função gratificada têm causado à Petrobrás.

Já não bastava a famosa dança das cadeiras existente em quase todas as unidades da Empresa e a indicação graciosa de pessoas para a função de consultoria, em detrimento de outras com as competências técnicas necessárias; agora, para beneficiar alguns gerentes prestes a se aposentar ou não, ficou ainda mais evidente a farra das transferências de gerentes de um estado para outro e para plataformas com ônus total da Companhia.

Exemplos disso acontecem na Bahia e no Norte Fluminense com a transferência de pessoas para unidades em terra e mar que possuem profissionais antigos com perfil e competências suficientes para assumirem tais funções gratificadas de gestão sem gerarem ainda mais custos para a Petrobrás.

Essa denúncia foi feita na expectativa de os demais Conselheiros apoiarem o fim dessa má gestão dos recursos da Empresa e de os talentos locais serem reconhecidos, valorizados e recompensados pelos bons trabalhos desenvolvidos.

Reunião extensa, mas bastante proveitosa, apesar das notícias e decisões ruins para os petroleiros, para a Petrobrás e para o Brasil.

PLANO DE VENDA DE ATIVOS: A QUEM REALMENTE INTERESSA?

Na última reunião do Conselho de Administração (CA) da Petrobrás, realizada no dia 19/01/2016, foram discutidos temas que afetam diretamente os trabalhadores de todo Sistema Petrobrás, com maior destaque para o plano de “desinvestimentos” patrocinado pelos atuais Diretores e Conselheiros. Tema que eu mesmo solicitei esclarecimentos devido à preocupação esboçada pela categoria petroleira, através de ligações, mensagens, blog e redes sociais.

A grande mídia, recentemente, deu enorme destaque à entrevista coletiva dada para analistas do mercado pelo diretor financeiro da Petrobrás, Ivan Monteiro, e a diretora de E&P, Solange Guedes – reproduzidas por jornais como O Globo, Folha de São Paulo e Valor – nas quais eles sinalizam o andamento de um processo de novas vendas de ativos, ou melhor, privatização da Transpetro e Fafen e rechaçam, ou pelos menos, consideram improvável a realização de uma capitalização da empresa por meio de aportes do governo federal.

Segundo informação do Diário do Nordeste, de 16/01/2016, Monteiro afirma que, no caso da Transpetro, as negociações para venda estão em fase inicial, mas que a Petrobrás já contratou um banco para avaliar a estrutura e atratividade da subsidiária. No que diz respeito à área de fertilizantes e nitrogenados, a Petrobrás sinaliza o interesse em vender as Fafens, por considerar que não representam mais um ativo estratégico para a empresa – mesma razão pela qual se justifica o desejo de se desfazer de sua participação na Braskem. Sobre a BR Distribuidora, o processo está em busca por parceiro empresarial para o negócio, conforme divulgado pela empresa via fato relevante.

A exposição desses temas de forma abrupta para a mídia evidencia a existência de problemas de governança na Petrobrás, considerando-se que eles não passaram por análise e deliberação prévia da Diretoria Executiva nem muito menos dos membros do CA, o qual consiste em uma instância decisória cujo poder está acima dos diretores supracitados. Nesse caso – como já foi citado em posts anteriores desse blog – há uma clara insubordinação da atual Diretoria às diretrizes estabelecidas pelo modelo de governança da companhia, pela Lei das Sociedades Anônimas e, principalmente, pelo acionista majoritário. A despeito da relevância desse fato, chama ainda mais a atenção à omissão do Governo Federal em relação à implementação de um projeto que enfraquece todos os elos da cadeia produtiva da Petrobrás e que traz a reboque prejuízos sociais incalculáveis, como o aumento do desemprego, a redução da renda das famílias e a diminuição de recursos para investimentos públicos.

Portanto, a omissão do Governo em relação às medidas que vem sendo implementadas na empresa pela atual gestão, não apenas valida a atuação de uma Diretoria completamente desvinculada dos interesses de Estado, como cria uma janela de oportunidade para que os demais acionistas – e não o Governo Federal – tenham um protagonismo na determinação das grandes diretrizes da companhia. Esses dois aspectos – a “independência” da Diretoria e a força dos demais acionistas (entenda-se aqui o mercado) – estão materializados no atual programa de desinvestimentos da Petrobrás – uma nova espécie de privatização – que tem se mostrado, inclusive, mais agressivo que as medidas de desestatização do governo FHC.

Além dos perversos resultados sociais e econômicos de longo prazo, o projeto de desinvestimentos ocorre diante de um cenário econômico instável e de uma geopolítica mundial do petróleo extremamente complexa. Esse cenário, entre outros aspectos, apresenta uma enorme queda do preço do barril do petróleo e uma grande oferta de ativos na indústria de petróleo e gás, o que certamente deprecia o valor das empresas que a atual gestão pretende vender. Um exemplo dessa depreciação de valor é a venda inaceitável da Gaspetro, uma empresa extremamente rentável para o Sistema Petrobrás que teve 49% de suas ações vendidas por um valor cujo a Mitsui garantiu o retorno de seu investimento em até dois anos.

Ao que se vê, a atual gestão da Petrobrás implementa uma política de vender a qualquer custo, independente da conjuntura atual, dos objetivos de longo prazo de Estado Nacional e dos interesses da categoria petroleira e da classe trabalhadora. O Governo Federal não tem dialogado com os movimentos sociais de modo a discutir alternativas diferentes da venda de ativos da Petrobrás. Nesse sentido, é fundamental que o governo Dilma se posicione contra a privatização da companhia, um processo que não aconteceu nem sob a administração neoliberal dos governos FHC, mas que está sendo planejado e aprovado pela nova gestão da Petrobrás com a anuência do Governo Federal, em concordância com sua equivocada política econômica.

A quem interessa a venda de ativos da Petrobrás? Ao capital Internacional? Ao Governo Federal? Quais são os interesses por detrás de tudo isso?

Petrobrás vive momento de reorganização e negociação

A última reunião do Conselho Deliberativo não trouxe grandes mudanças estruturais no atual caminho traçado pela gestão da Petrobrás, mas sinalizou que a pressão exercida pelos trabalhadores tem produzido alterações pontuais na política de desinvestimento da companhia. Em primeiro lugar, seguindo o exemplo da parceria realizada em outubro com o banco chinês, Industrial and Commercial Bank of China Leasing, que possibilitou a entrada de financiamento de US$ 2 bilhões, a Petrobrás tem buscado novas possibilidades de negociação com o mercado chinês a fim de atrair novos recursos para a companhia. Em segundo lugar, a companhia tem criado canais de negociação para realizar parcerias entre as áreas de E&P e obter novos financiamentos com baixo risco para a companhia. Em terceiro e último lugar, a Petrobrás tomou uma importante decisão de realizar um aporte de recursos na PBio, embora ainda não esteja descartada a possibilidade de venda futura de parcela desse ativo. Somente a pressão dos trabalhadores e a atuação do movimento sindical possibilitarão que esses movimentos possam ser evitados no médio prazo. De todo modo, a iniciativa mostrou-se importante, uma vez que alguns países – como a Holanda – apontou interesses em realizar parcerias com o Brasil para o desenvolvimento do setor de biocombustíveis. De acordo com matéria do periódico especializado, JornalCana, com essa parceria, “a expectativa é de um salto de qualidade na colaboração Holanda-Brasil. O programa prevê a participação de agências de fomento, universidades, institutos de pesquisa e empresas”.

Mesmo com a discussão das novas FORMAS de financiamento da companhia, tenho insistido que a Petrobrás continue estruturando novas MANEIRAS de atrair recursos para a companhia visando sustentar os investimentos fundamentais para o desenvolvimento da Petrobras e do Brasil. Sobre alguns temas discutidos pelos trabalhadores, torna-se importante esclarecer dois pontos: primeiro, que ainda não foi tomada nenhuma nova decisão pelo Conselho de Administração em relação a reestruturação organizacional, apesar da série de especulações sobre as possíveis mudanças na companhia; segundo, não ocorreu nenhuma aprovação de desinvestimento, embora alguns jornais – como a Folha de São Paulo – tivessem noticiado a venda de ativos, como campos de petróleo.

Processo de fragmentação da Petrobrás X A luta e participação dos trabalhadores

As decisões da última reunião do CA da Petrobrás retratam duas realidades do atual momento vivenciado pela empresa:
i) Novas ações estão sendo tomadas para materializar o processo de fragmentação da estatal, cujo protagonista é o acionista majoritário, ou seja, o Governo Federal;
ii) A importância da luta e da participação dos trabalhadores para conter a ótica privatista e curto prazista que toma conta da companhia.

Sobre o primeiro ponto, como já divulgado pela mídia, a Petrobrás venderá 49% da Gaspetro, o que significará uma redução da sua participação nas atividades de distribuição e transporte de gás. Além de abrir mão de parte de uma atividade com caráter estratégico, o negócio foi realizado com a empresa Mitsui, uma das citadas no escândalo da Lava-Jato, como também na corrupção do metro de SP. Ademais, o movimento sindical petroleiro entende que existe um conflito de interesses nessa negociação, porque a Mitsui detém 19% das ações da Vale, e o presidente da Vale estava na negociação, como presidente do Conselho de Administração da Petrobrás. A FUP está entrando com uma ação civil pública, questionando essa ação na justiça. Ao mesmo tempo, alguns governadores estão se manifestando contra a possível redução da Petrobrás nas empresas de distribuição de gás do país. Esse foi um primeiro passo para fraturar a espinha dorsal do modo de funcionamento da empresa, cuja principal característica é a forte integração entre todos os elos da cadeia de produção do petróleo e gás natural.

Outra tentativa de fragmentação e privatização da Petrobrás ocorreu por intermédio da abertura de capital da BR Distribuidora. Como noticiado no mês de agosto, pela EBC, a organização já aprovou a abertura de capital da BR e visava vender cerca de 25% de suas ações no mercado. Na última reunião, essa decisão não se efetivou tanto pela pressão dos trabalhadores, como pela não revisão do Estatuto Social da BR pelo DEST.

No que diz respeito ao segundo ponto, a representação dos trabalhadores no Conselho, apoiada pela ampla participação de toda a categoria, tem permitido minimizar os impactos negativos da atual estratégia de fragmentação e redução da Petrobrás. Em primeiro lugar, a articulação realizada pela representação dos trabalhadores no Conselho junto aos governos estaduais tem postergado, pelo menos no curto prazo, a efetivação da forte redução de investimentos. Em segundo lugar, a Diretoria da estatal já tem sinalizado o interesse em encontrar alternativas para financiar os investimentos da Companhia, dentre estas algumas que a FUP já havia mencionado na sua Pauta pelo Brasil, a saber: tomada de empréstimo junto a países estrangeiros em troca de exportação de barris de petróleo e operação de financiamento com bancos públicos nacionais. Em terceiro lugar, a Petrobrás alterou sua estratégia de abertura para BR; ao invés da abertura de capital, como mostrou o Valor, optou-se pela busca de um parceiro estratégico que poderá adquirir uma parcela minoritária da BR Distribuidora (25% a 40%), mas sem permitir a negociação de ações na bolsa de valores. Além de não sofrer com as pressões e flutuações características do mercado financeiro, essa opção não pulverizou os interesses em torno da empresa e assegurou à companhia a manutenção da diretriz estratégica, apesar de abrir mão de parte da sua participação. Mesmo com as alternativas apresentadas na última reunião do CA de otimização de alguns produtos da BR Distribuidora, como o cartão de crédito BR, o programa fidelidade, a BR Mania (loja de conviniênia) e a Lubrax Mais.

Fortalecimento de uma Petrobrás 100% pública

Apesar da forte atuação do movimento sindical, a estratégia de fragmentação e redução da Petrobrás continua em marcha forçada, como mostraram os casos da BR e da Gaspetro. Embora nossos esforços tenham atenuado os impactos negativos, é necessário fortalecer nossa atuação para reverter o atual quadro existente. Toda a argumentação técnica e política mostrando os equívocos dessa estratégia já foi apresentada pelo movimento sindical, mas tanto a empresa, como o Governo Federal insistiram em sustentá-la. Desse modo, nos resta fortalecer nosso embate para manter uma Petrobrás 100% pública e de todo o povo brasileiro!

Relato da reunião do CA: Novos resultados, velhos desafios

A reunião do Conselho de Administração da Petrobrás avaliou dois temas:
1- Os resultados da companhia no segundo trimestre de 2015;
2- A abertura de capital da BR Distribuidora.

Como amplamente divulgado pela mídia, o lucro da Petrobrás no segundo trimestre de 2015 foi de R$ 531 milhões, cerca de 90% inferior ao mesmo período de 2014. Em função da forte redução do preço do petróleo Brent – diminuiu 47% entre o primeiro semestre de 2014 e de 2015 – e da variação da taxa de câmbio, que se depreciou mais de 40% no mesmo período, o lucro da Petrobrás oscilou negativamente neste período. Além disso, os gastos tributários e de juros relacionados ao IOF também contribuíram para esse resultado.

Esclarecemos de antemão que os segmentos produtores de commodities têm forte influência da economia internacional, uma vez que a determinação do preço e da demanda está fortemente ligada às mudanças ocorridas no ambiente externo.

Em países cuja moeda não é conversível – ou seja, quando a moeda não é capaz de realizar transações financeiras, sem restrições de compra ou venda no mundo –, as grandes empresas desses setores são obrigadas a negociar em moeda estrangeira e, por isso, sofrem grande impactos com as variações cambiais.

Assim, a Petrobrás sofreu – e sofrerá – com as decisões externas de redução do preço do petróleo, bem como com a desvalorização da taxa de câmbio. Desse modo, uma análise mais detalhada do balanço aponta que esse choque negativo nada mais é que um movimento conjuntural das variáveis macroeconômicas internas e externas (câmbio, preço e juros), sendo irrelevante uma avaliação do ponto de vista estrutural ou de longo prazo da companhia.
Em outras palavras, uma extrapolação do resultado atual para o longo prazo, significa um exercício econômico de miopia ou explicita uma disputa política que visa enfraquecer a empresa. As questões-chave para a companhia continuam ligadas à sua capacidade de se manter competitiva e integrada no longo prazo, não apenas para aumentar sua margem de manobra em momentos de oscilação econômica, como também para sustentar seu papel de indutor do desenvolvimento nacional no longo prazo.

Nesse sentido, a segunda decisão tomada pelo Conselho de abrir o capital e registrar oferta pública da BR Distribuidora, iniciou o já divulgado processo desintegração da empresa. De acordo com o jornal Valor, “a Petrobrás poderia vender entre 25% e 40% da empresa”. Com isso, a estatal deixa de controlar grande parte da distribuição de combustíveis do país, um primeiro movimento no sentido de reduzir a participação da organização em vários segmentos da cadeia de petróleo. Além disso, abre espaço que para que o mercado passe a pressionar e orientar a atuação da subsidiária.

Do ponto de vista estratégico, essa decisão representa uma ameaça para o futuro da Petrobrás enquanto uma empresa integrada e pode reduzir sua capacidade de atuar em prol do desenvolvimento de longo prazo. Esse, sim, um aspecto que deve orientar a luta de toda a classe trabalhadora.

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