Após as notícias das possíveis vendas de termelétricas para a iniciativa privada e do anúncio de negociações para a venda da Gaspetro à empresa Mitsui, a Petrobrás divulgou, recentemente, uma nota que informa que “a Diretoria Executiva autorizou a busca de um parceiro estratégico para a subsidiária integral Petrobrás Distribuidora (BR)”. Isso significa, infelizmente, que a estratégia traçada pelos gestores da empresa de desinvestir maciçamente nos seus ativos continua ditando o processo decisório da estatal. O que mais chama a atenção na nota é a ideia de “parceria estratégica”, que, na verdade, não consegue esconder o cunho privatista que marca o novo Plano de Negócios e Gestão da companhia (2015-2019).

Revista Istoé – 14 de outubro de 2015
A reportagem traça um histórico interessante sobre o caso da BR Distribuidora. Em julho deste ano, a estatal anunciou que a sua subsidiária estava no plano de desinvestimentos previstos, e que poder-se-ia abrir seu capital, listando-a na Bolsa de Valores, com o intuito de melhorar “práticas de governança corporativa”. Em agosto, o Conselho de Administração (CA) autorizou o protocolo de registro de oferta pública e de companhia aberta junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). No mesmo mês, a BR Distribuidora criou uma operação para captar R$ 3,5 bilhões em debêntures, com vencimento em somente em 2020, visando a, supostamente, melhorar a situação financeira da empresa.

Jornal O Estado de S. Paulo – 14 de outubro de 2015
Destaca que a nova estratégia de busca por um parceiro estratégico já havia sido definida em agosto, mas que foi colocada de lado devido ao projeto de abertura de capital de até 25% da BR Distribuidora. Já o jornal Folha de S. Paulo, de 11 de outubro de 2015, sublinha que as negociações com possíveis parceiros já estão adiantadas, tendo em vista que a Petrobrás já foi procurada por investidores chineses e europeus. A opção pela parceria estratégica, segundo o jornal Folha de S. Paulo de 14 de outubro de 2015, deve-se às dificuldades impostas pelo atual cenário econômico, que cria dificuldades para o lançamento de ações em bolsa, o que torna mais viável a venda de uma fatia da empresa diretamente a um novo sócio.

Diante desse cenário preocupante, é preciso relembrar algumas informações e dados importantes. A BR Distribuidora é a principal subsidiária da Petrobrás, já que ela é a empresa responsável por vender e transportar os combustíveis das refinarias até os postos e possui números muito positivos.

Jornal Valor – 08 de maio de 2015
De acordo com o jornal, ela detém 37,9% do mercado brasileiro e, em 2014, sua receita com vendas foi da ordem de R$ 98,914 bilhões, além de ter obtido lucro de R$ 1,12 bilhão.

Em suma, esses fatos mostram que a venda de parte da empresa, seja direta ou por meio de abertura de capital, não faz sentido. O que se está buscando com esse tipo de decisão nada mais é do que desnacionalizar a Petrobrás, privatizando-a aos poucos, sob a justificativa de que se devem implementar melhores práticas de gestão e de governança, para agradar ao mercado e aos acionistas. Já se sabe que a venda de ativos para a iniciativa privada incorre em consequências gravíssimas para os trabalhadores, porque aumenta o número de terceirizações.

Jornal Le Monde Diplomatique – 03 de setembro de 2015
Segundo o jornal, em dezembro de 2014, 78% do total de trabalhadores da estatal eram terceirizados, e apenas 22% eram trabalhadores diretos. O jornal ainda mostra que, em meados de 2015, já houve mais de 85 mil demissões. Ou seja, se houver a venda de mais ativos, haverá mais terceirizações, piores condições de trabalho e mais demissões.

Portal A Tarde – de 16 de outubro de 2015
Essa negociação terá impactos na Bahiagás, tendo em vista que haverá mudanças no conjunto societário da empresa. Pelo contrato original, o governo baiano indica a presidência; a Mitsui, o diretor financeiro; e a Gaspetro, o diretor técnico. Se a venda for concretizada, a Mitsui passará a ter maior poder decisório, e o estado baiano poderá perder o controle da distribuição de gás, que será transferido para a iniciativa privada. Essa conjuntura não se diferencia muito daquela da BR Distribuidora, em que o Estado é alijado do processo decisório de um ativo crucial para o desenvolvimento do país, que passa a se concentrar nas mãos de agentes econômicos privados, que focam somente nos ganhos imediatistas e não se importam com os trabalhadores.

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