A análise da conselheira Betânia em relação à Petrobras contém dois grandes equívocos. Em primeiro lugar, ela considera a participação do Estado apenas como receptor de recurso fiscal oriundo da produção de petróleo. E em segundo lugar, ela ignora todos os avanços que foram realizados no setor ao longo da história e que ocorreram a partir da liderança da Petrobras. Em relação a essa segunda consideração, é preciso ressaltar que todos os países que começaram a investir na indústria de petróleo – inclusive aqueles que têm, atualmente, empresas globais e privadas – iniciaram um processo de exploração do setor petróleo a partir de um forte apoio estatal, com empresas nacionais, sejam estatais ou privadas. Tanto EUA, quanto Noruega e França, por exemplo, e ainda os países do Oriente Médio, iniciaram a produção de petróleo por meio de empresas estatais. O objetivo disso era garantir um recurso nacional que era fundamental para o desenvolvimento industrial e do setor de energia, no longo prazo.

No caso do Brasil, a análise da conselheira negligencia as conquistas que a Petrobras obteve ao investir no petróleo no Brasil. Primeiramente, a exploração offshore no Brasil só avançou por conta do forte investimento em capital humano e investimento produtivo da Petrobras. Quando a Petrobras surgiu, acreditava-se que o petróleo existia somente no setor onshore, ou seja, nos campos de terra. O forte investimento e atuação da Petrobras, exclusivamente, propiciaram o descobrimento de reservas de petróleo no setor offshore.

No que concerne ao pré-sal, a conjuntura é idêntica a esse período inicial de conquistas da companhia. Foi o investimento exclusivo da Petrobras no setor offshore que possibilitou a descoberta do pré-sal. Por isso, há um equívoco quando se afirma que a abertura do setor ajudou a alcançar esse objetivo. Na realidade, as empresas estrangeiras, em grande parte, têm interesse em participar do setor petróleo como parceiras da Petrobras, que é quem tem maior conhecimento desse setor no Brasil. Desse modo, no que diz respeito a esse aspecto sobre a origem da Petrobras, chega a ser absurdo ignorar os avanços que a Petrobras obteve antes da abertura do setor.

Sobre a atuação governamental, reduzir o objetivo da atuação estatal à obtenção de recursos fiscais via royalties consiste em outro disparate porque, como se sabe, a partir do forte investimento que a Petrobras realizou nos últimos 13 anos foi possível fazer, em muitas regiões do pais e nos quais o setor privado não tem interesse em atuar, grandes investimentos, garantindo a geração de renda e emprego em vários locais. Como exemplo disso, na indústria naval, nos últimos 13 anos, foram gerados cerca de 50 mil empregos. Com a redução dos investimentos da Petrobras, só no Rio Grande do Sul já houve uma redução de 10 mil empregos. Se todos os trabalhadores demitidos recebessem um salário mínimo (aproximadamente 900 reais), ao multiplicar esse valor pelo número de empregos reduzidos (900 x 10 mil), é possível observar o tamanho do prejuízo econômico que essa região teve por conta dos desinvestimentos da Petrobras.

Além disso, outro impacto que também se negligencia é que a Petrobras, por ser uma empresa integrada, tem vários ganhos de escala investindo em setores diferentes, algo que não interessa à iniciativa privada, considerando-se que os diferentes elos da cadeia de petróleo têm diferentes margens de lucro. O setor do refino é um grande exemplo disso, pois tem uma margem de lucro menor do que a do setor de produção e exploração. Portanto, é evidente que as empresas têm mais interesse em atuar pesadamente no setor offshore do que no setor de refino. O fato é que até hoje poucas refinarias privadas foram construídas no Brasil nos últimos 13 anos.

Em relação a essa conjuntura, a conselheira ignora dois principais fatores: o primeiro são os efeitos multiplicadores que a Petrobras cria e o segundo são os efeitos de escopo e escala que geram uma empresa integrada como a Petrobras. Em relação ao primeiro fator, esses efeitos multiplicadores é que foram responsáveis pelo fato de o setor petróleo ter chegado a corresponder a 10% do PIB. Isso significa que a Petrobras, ao investir em um lugar que não teria investimento privado, possibilita a expansão de renda e de salário. Um bom paralelo para isso é o setor bancário. Em cidades menos desenvolvidas do Nordeste, geralmente existem somente agências de bancos como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, justamente porque os bancos privados não têm interesse em investir nesses locais, já que há menos oportunidades de eles gerarem lucros. E esse processo ocorre da mesma forma no setor petróleo, tendo em vista que, quando se retira a Petrobras desses locais menos desenvolvidos, isso gera um caos econômico significativo.

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