O plano de desinvestimentos da Petrobrás, que é o cerne do Plano de Negócio e Gestão (PNG) da companhia para o período de 2015-2019, já começou a ser implementado. Depois da aprovação da venda de 25% da BR Distribuidora, a estatal anunciou que está em negociação final para vender 49% da Gaspetro, o que já havia sido noticiado há algum tempo. O que mais chama a atenção na nota divulgada pela empresa é a afirmação de que “fatos relevantes sobre esse tema serão tempestivamente comunicados ao mercado”. Essa frase ilustra claramente a quem serve a estratégia equivocada que vem sendo adotada pelos gestores da Petrobrás.

Ora, mensagens e informações relacionadas à venda de ativos devem ter como destinatários, precipuamente, o mercado? A impressão é a de que, de acordo com o alto escalão da estatal, a resposta é afirmativa. E isso significa que as forças sociais conservadoras, que tem trabalhando intensamente contra a defesa dos interesses nacionais, têm obtido um êxito considerável, porque querem minar, o mais rápido possível, o poder de transformação social que a Petrobrás possui.

Diante disso, o que se observa é um quadro em que a luta dos trabalhadores é completamente ignorada por certos atores sociais. O processo de tomada de decisão da estatal tem-se baseado em cálculos que atendem somente aos interesses de agentes econômicos privados, sobretudo os estrangeiros. É fato, portanto, que o delineamento de políticas da empresa tem cunho privatista. Cada vez mais, visa-se a reduzir o papel do Estado na companhia, com a justificativa de que se devem buscar instrumentos mais eficientes e transparentes de gestão. Entretanto, um processo de privatização não garante, necessariamente, esse objetivo, e ainda se aproveita de uma conjuntura econômica instável, que se supõe ser suficiente para sanar os problemas de caixa da empresa.

É necessário recordar que, segundo o PNG, o setor de gás e energia é o que sofrerá o maior corte de investimentos (40% do total). Além da venda da Gaspetro, o jornal Folha de S. Paulo noticiou, em 15/07/2015, que se contempla, ainda, abrir até 80% do capital da Transportadora Associada de Gás (TAG). Desse modo, deve-se ressaltar alguns números. Segundo o jornal O Globo, de 13/07/2015, a Gaspetro é dona de aproximadamente 7000 quilômetros de gasodutos, que são geridos pela TAG. Segundo a revista Exame, de 17/09/2015, a Gaspetro vale, aproximadamente, US$ 2,6 bilhões. O relatório de administração de 2014 da TAG mostra que ela possui R$ 24,6 bilhões em ativos, o que a coloca como uma das maiores empresas da Petrobrás. Esses números ajudam a esclarecer que os investimentos nessa área devem continuar existindo, e o Estado deve permanecer como detentor dos ativos desse setor.

Por fim, é preciso destacar que a estatal tem investido bastante no setor de gás nos últimos anos, visando a garantir o suprimento de certos setores da indústria nacional, como as termelétricas. Portanto, a venda da Gaspetro significa retirar da Petrobrás o controle de um insumo energético extremamente importante para a economia nacional, perdendo o controle de preços, que passa a sofrer interferência da iniciativa privada. Além disso, a venda dessa empresa representa um golpe para os trabalhadores, pois certamente haverá revisão de contratos e maior número de trabalhadores terceirizados, que sofrerão com a redução de salários e com possíveis demissões, ainda mais dentro de uma conjuntura que se apresenta como desfavorável para o mercado. E em tempos de crise, os trabalhadores são sempre os primeiros a sentir suas consequências, já que são dispensados por motivos de “redução de custos”. Enquanto isso, os benefícios dos patrões continuam intocados.

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