O Conselho de Administração (CA) da Petrobrás aprovou, em sua última reunião, a venda de 49% da Gaspetro para a Mitsui Gás e Energia do Brasil, que é subsidiária da japonesa Mitsui, o que comprova o equívoco no processo de tomada de decisão dos gestores da companhia. Como se não bastasse, segundo o jornal Folha de S. Paulo, de 23/10/2015, o valor da venda é de somente R$ 1,9 bilhão. O site da Mitsui destaca, ainda, que a empresa é detentora de 15% das ações da Valepar S.A., controladora da Vale. Por fim, como destaca o Portal G1 de 05/08/2015, a empresa japonesa é alvo da Operação Lava-Jato. Esses fatos levam a alguns questionamentos importantes sobre essa operação de venda.

Primeiramente, é preciso relembrar que, de acordo com o jornal O Globo, de 13/07/2015, a Gaspetro é dona de aproximadamente 7000 quilômetros de gasodutos e que, segundo a revista Exame, de 17/09/2015, ela vale, aproximadamente, US$ 2,6 bilhões. Informe da Federação Única dos Petroleiros (FUP), de 26/10/2015, mostra que a Gaspetro obteve lucro líquido de R$ 1,6 bilhão em 2014 e sublinha análises realizadas pelos bancos JP Morgan e Brasil Plural, enfatizando que a PETROBRAS poderia arrecadar até US$ 1,3 bilhão com a venda da Gaspetro, valor que gira em torno de R$ 5 bilhões, aproximadamente. Considerando todos esses números apresentados, é evidente concluir que o valor de venda é mais baixo do que o real, o que torna a operação bastante duvidosa. Ou seja, afora o retrocesso de vender um ativo estratégico para uma empresa privada, pretende-se, na verdade, praticamente entregá-lo de mão beijada para o mercado.

Em segundo lugar, devem-se questionar as relações entre a presença de Murilo Ferreira no CA e sua função como presidente do Conselho de Administração da Vale. O informe da FUP ressalta que as notícias sobre a venda da Gaspetro começaram a ser divulgadas em março de 2015, sendo que, em abril, Ferreira foi nomeado presidente do CA. Em junho, a Mitsui foi tida como uma das potenciais compradoras e, em setembro, Murilo Ferreira pediu licença do CA, na mesma época em que foi anunciado que a PETROBRAS estava em negociações finais para a venda da Gaspetro. Levando em consideração o fato de a Mitsui possuir 15% das ações da Vale, deve-se questionar se foi facilitada à empresa a operação de compra da Gaspetro. Por mais que não seja possível fazer nenhuma argumentação baseada em fatos, no mínimo é curioso notar que a Mitsui realizou a compra de uma empresa da Petrobrás, sabendo que o presidente do CA à época das negociações era também o presidente da Vale.

Finalmente, o fato de a Mitsui estar envolvida nas investigações da CPI da Petrobrás gera grandes dúvidas sobre se o negócio faz sentido. Em uma conjuntura em que a estatal se encontra fragilizada porque sofre pressões dos setores mais retrógrados da sociedade, o que menos se espera dos gestores é que a companhia seja atacada e que se abra mão de sua autonomia decisória. Além disso, deve-se reiterar que quem mais sofrerá com a venda da Gaspetro são os trabalhadores, afinal processos de privatizações ocorrem em nome da “otimização” de custos e de supostas melhorias de práticas de gestão, que implicam sempre perdas de direitos facultados aos trabalhadores. Em outras palavras, não há garantia de condições ideias de trabalho, pois pode haver jornadas de trabalho exaustivas, maior quantidade de terceirizações, aumento do desemprego e diminuição de salários.

Por essas razões, nos posicionamos contrariamente à venda da Gaspetro. Fomos os únicos a adotar essa postura no CA e seguiremos firmes em defesa da Petrobrás!

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