A implementação do plano de desinvestimentos da Petrobrás segue firmemente. Segundo informações do blog Relatório Reservado, a estatal negocia a venda de termelétricas para a multinacional norte-americana do setor elétrico AES. Os dados apresentados indicam que a empresa estrangeira tem interesse em adquirir até 30% de participação minoritária em 7 das 21 térmicas que são controladas pela Petrobrás, o que significa a materialização dos grandes cortes previstos no setor de gás e energia (40%). Aliado a isso, a estatal anunciou, no dia 05/10/2015, que fará ajustes no Plano de Negócios e Gestão (2015-2019), que levarão a cortes de US$ 11 bilhões nos investimentos da companhia. Diante disso, é possível observar um quadro alarmante, em que decisões são tomadas equivocadamente, sobretudo no caso da venda de ativos para a AES, que é uma empresa com um histórico bastante duvidoso.
Em maio de 2003, o jornal O Estado de S. Paulo noticiou um “novo” calote da AES no BNDES. A multinacional usou empréstimos do banco estatal para adquirir 33% do capital ordinário da CEMIG no valor de US$ 526 milhões, mas não pagou a última parcela, que tinha valor de US$ 87 milhões. Antes disso, a AES já havia dado um calote no BNDES quando pediu empréstimos para financiar a compra da Eletropaulo. Nesse caso, a dívida com o banco chegou a US$ 1,2 bilhão, e a instituição teve de recorrer à justiça para que a empresa honrasse seus compromissos. O portal Hora do Povo, de 21/02/2003, informou que esse calote poderia acarretar no retorno da Eletropaulo às mãos do Estado, o que acabou não ocorrendo.
De acordo com o jornal Valor, de 23/03/2004, o calote da AES no caso da CEMIG reduziu o patrimônio do BNDES em fevereiro daquele ano, que teve de baixar como prejuízo o montante emprestado. O portal Diário do Aço, de 23/06/2012, apontou que o acordo inicial de compra das ações da CEMIG pela AES previa que os acionistas recebessem dividendos de 50% dos lucros; além disso, eles possuiriam o controle da empresa, tendo em vista que contariam com 1/3 do número de diretores e 4 dos 11 conselheiros. Entretanto, segundo o jornal Valor, de 21/01/2005, quando Itamar Franco assumiu o governo mineiro, em 1999, ele cassou o direito de gestão da AES.
A partir desse histórico nebuloso da empresa AES, é possível detalhar uma conjuntura mais clara sobre as negociações que a Petrobrás está entabulando. Trata-se de uma empresa que, obviamente, só tem interesse na exploração de atividade econômica em solo nacional para angariar a maior quantidade de lucro possível. Ademais, ela não possui nenhum compromisso em atender o interesse público e não respeita as instituições nacionais, como mostram os casos de calotes no BNDES, que é um banco crucial de fomento para desenvolver o Brasil, não para financiar estratégias de agentes econômicos privados que somente querem cumprir as vontades do mercado.
Desse modo, a Petrobrás, ao seguir com o plano de desinvestimentos, continua a se preocupar mormente com os lucros dos acionistas, deixando de lado a garantia de interesses estratégicos, que só são alcançados quando mantidos os investimentos de suma importância, por exemplo, aqueles no setor de gás e energia. Por fim, mais uma vez os trabalhadores serão prejudicados, porque sempre há riscos de contenção de gastos, mais terceirizações e demissões quando ocorrem processos de privatizações.