Publicado por Marcelo Auler
Em 1º de abril, apesar de ser o dia da mentira, postei aqui um artigo cobrando a busca de uma saída para a crise que vivemos – Para onde vamos? O que queremos? – escrito a partir de um seminário promovido pelo Sindicato do Rio e a Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros. Apontava o início de diversas discussões que surgiam por parte de quem já se cansou em falar da crise e começa a pensar como dela sair.
Mal sabia que na véspera, no fatídico 31 de março, Luiz Carlos Bresser Pereira, com quem tive o prazer de conviver mais de perto nos anos 80 e a quem aprendi a respeitar mesmo quando divergíamos em muitas posições, também se preocupava na busca de saídas diferentes da que este governo ilegítimo, porque fruto de um golpe, quer impor ao país.
Da lavra de Bresser Pereira surgiu o Manifesto do Projeto Brasil Nação o qual, embora elaborado no final de março, só recebeu divulgação semana passada. Veio a público com 1.800 assinaturas – número que me foi repassado sexta-feira (14/04). Hoje, segundo informações ainda não totalmente confirmadas, estaria com mais de 5 mil adesões.Oficialmente o Manifesto será lançado no dia 27 de abril, às 18h, na Arcadas da Faculdade de São Francisco, da USP, no Largo de Sãso Francisco, na capital de São Pasulo.
São pessoas de peso como o próprio Bresser Pereira e sua esposa a psicanalista Vera Bresser Pereira, Chico Buarque de Holanda, Frei Betto, Celso Amorim, Raduan Nassar, Laerte, Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Roberto Schwarz, Fábio Konder Comparato, João Pedro Stedile, Ermínia Maricato, Wagner Moura, Margarida Genevois, Fernando Haddad, Marcelo Rubens Paiva, Maria Victoria Benevides, Paulo Sérgio Pinheiro, Maria Rita Kehl, Eric Nepomuceno, Ciro Gomes, Marcelo Lavenère, Renato Janine Ribeiro, Ennio Candotti, Samuel Pinheiro Guimarães estão lá, entre as primeiras adesões. Mas há ainda centenas de cidadãos que torcem por uma saída democrática para esta crise. (Os apoios estão abertos em: http://www.bresserpereira.org.br/manifesto.asp).
Como o próprio Bresser Pereira expôs na sua página do Facebook, não é um documento acabado. É um chute inicial com pontos básicos necessários para sairmos da crise econômica. Trata-se de propostas macroeconômicas. Mas, elas não atendem a outras questões, do meu modo de ver mais imediatas. Na definição do seu principal idealizador, Bresser Pereira, O Projeto Brasil Nação é:
“Um movimento político para devolver ao Brasil a ideia de nação. Hoje, ao invés de uma nação coesa buscando a democracia e a justiça social, como éramos nos anos 1980, somos uma sociedade dividida, na qual um governo nascido de um golpe parlamentar tenta impor ao povo brasileiro uma política liberal radical. Hoje, ao invés de uma economia que cresce fortemente, a uma taxa superior a 4 % ao ano, somos desde 1980 uma economia semiestagnada, crescendo menos de 1%. Estamos, portanto, diante de uma crise econômica de longo prazo, que foi agravada pela descoberta de um amplo esquema de corrupção envolvendo empresas, políticos, lobistas e funcionários de empresas estatais. Embora a corrupção envolvesse políticos de todos os partidos, ela abriu espaço para um liberalismo radical moralista, de direita, como eu nunca havia visto antes. Uma verdadeira luta de classes de cima para baixo. Dado esse diagnóstico geral, realizamos uma série de reuniões para redigir o manifesto que agora estamos tornando público”.
Há, porém, questões imediatas como, por exemplo, a pressa do governo ilegítimo e do Congresso que está sob suspeita em aprovar de projetos que modificam a CLT e reformulam as regras da Previdência. Reformas que, embora necessárias para muitos, não podem ser feita do jeito como foram apresentada e estão sendo discutidas.
É preciso barrar estas tentativas de votação. Boicotar o Congresso, paralisá-lo e cobrar uma mudança total que, para muitos, está em dois movimentos que se complementam: a mobilização da sociedade como um todo e as Eleições Diretas de um parlamento renovado e um governo legítimo.
Isso, por sinal, foi muito bem colocado por Roberto Junquilho no artigo A Odebrecht quebrou a “Omertá”, e agora?, publicado em seu blog Panorama Atual, na revista eletrônica Século Diário, do Espírito Santo:
“Tarefa difícil é achar uma saída nesse cenário, pois quem terá legitimidade para adotar medidas que resultem na retirada da quadrilha que se instalou no Planalto e reunir força para convocar eleições diretas e possibilitar a punição dos culpados? A morosidade do Judiciário e os acordos que já começam a se esboçar nos escalões superiores não oferecem boas perspectivas.
Desse modo, a alternativa para mudar a situação passa pela mobilização popular em defesa de um amplo referendo para uma reforma política de fato, sem os costumeiros conchavos. O governo e Congresso atual não têm condições morais de atuar em alterações nas leis do País, como a reforma da Previdência, impossibilidade que atinge em cheio lideranças, entre elas Lula e vários de seus ex-colaboradores, todos citados pelos delatores com ricos detalhes“.
Outra contribuição no mesmo sentido partiu do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) em um artigo publicado sexta-feira (13/03) na Folha de São Paulo – Estado de Decomposição. Lá , ele expõem:
“Um Estado assim privatizado, mesmo com tantas “faturas expostas”, empurra as pessoas à vida particular, ao alheamento em relação ao que é público. Assim atomizados, os indivíduos se consideram os principais culpados por seu próprio “fracasso”, como desemprego e carências de toda ordem. Estado de mal estar.
Ações policiais e judiciais não transformam a sociedade: fazem um diagnóstico da podridão e atacam bactérias que aceleram a degeneração do corpo social. Só a cidadania ativa, politizada, viabilizará a superação do que hoje enoja. Urge a mudança radical do modelo político falido, que jamais será reformado em profundidade pelos que dele se beneficiam, legislam em causa própria e estão afogados na lama de tantas denúncias.
Provocado a sintetizar seu fecundo trabalho, Mário de Andrade (1893-1945) disse: “Minha obra toda badala assim: Brasileiros, chegou a hora de realizar o Brasil!”. Só eleições livres e limpas legitimarão os protagonistas da imprescindível refundação da República“.
As propostas estão lançadas. Ao que parece, tudo só será possível mediante uma grande mobilização. Há, é verdade, a convocação para uma greve geral no dia 28 de abril. A dúvida que permanece é se nós aguentaremos com tudo isso até lá, mais 11 dias. Ao mesmo tempo, serão dias importantes para aumentarmos a mobilização social. E isto pode ser feito, inclusive, como a tentativa de paralisarmos qualquer iniciativa do governo ilegítimo e do Congresso sob suspeita de tentar aprovar mudanças na legislação, principalmente os atuais projetos que só prejudicam a sociedade. É preciso mãos à obra para a mobilização aumentar.
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