Por André Ramalho e Rodrigo Polito
Um dos principais pilares do plano de negócios da Petrobras, o programa de venda de ativos foi intensificado pela nova administração da estatal, na tentativa de levantar recursos para a acelerar a desalavancagem da companhia até 2018. Ontem, a petroleira anunciou uma nova meta nesse projeto, de US$ 19,5 bilhões para os próximos dois anos, e sinalizou ao mercado que pretende sair integralmente de setores como o de gás liquefeito de petróleo (GLP), biocombustíveis, fertilizantes e até petroquímica.
A companhia quer também buscar parceiros para operar seus ativos de refino, transporte, logística e distribuição de combustíveis e espera levantar, ao todo, US$ 34,6 bilhões com venda de ativos entre 2015 e 2018, considerado os negócios já em curso. Com a venda da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), para a Brookfield, a expectativa é que a Petrobras atinja US$ 9,8 bilhões em venda de ativos desde 2015.
Os segmentos de onde a empresa pretende sair concentram ativos como a distribuidora Liquigás; as cinco usinas de biodiesel e nove de unidades de etanol da Petrobras Biocombustível; e as três fábricas de fertilizantes da estatal.
Um dos ativos que mais chamam a atenção é a Braskem, onde a estatal detém 47% do capital votante, ao lado da Odebrecht (53%). A petroquímica é cogitada há tempos para entrar na lista de venda de ativos da Petrobras, mas a negociação esbarra no envolvimento da construtora na Lava-Jato. No mercado, contudo, a percepção é de que o acordo de leniência da Odebrecht possa facilitar tanto um acordo de acionista entre o novo sócio e a construtora, quanto levar o grupo baiano a também vender sua participação.
“Estamos trabalhando para vender esses ativos porque claramente é onde não somos os melhores operadores. Etanol é um produto que tem uma base agrícola muito importante e certamente não é nossa especialidade. Temos que ter a humildade de reconhecer quando não é a nossa especialidade”, disse ontem Pedro Parente, presidente da companhia.
O BTG Pactual estima que a Petrobras poderia levantar US$ 2,5 bilhões com a venda da Braskem e US$ 650 milhões com a Liquigás. O banco também estima ganhos de US$ 3 bilhões com a venda da BR Distribuidora e de US$ 4 bilhões com as térmicas.
Parente destacou que, além da venda de ativos, a companhia quer buscar parceiros para operar suas refinarias. “Temos uma experiência de muito sucesso de parcerias no upstream [exploração e produção], é uma área onde a empresa opera bem com seus parceiros e queremos trazer esse modelo para outros ativos”, afirmou.
Depois das tentativas frustradas de atrair um sócio para a conclusão da refinaria do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), a Petrobras está reavaliando o modelo de negócios para busca de um parceiro estratégico para o setor. O diretor de Refino e Gás Natural da empresa, Jorge Celestino, disse que a petroleira ainda não decidiu se colocará à venda ativos isolados ou um conjunto de refinarias, mas indicou que a estatal está costurando um modelo que ajude a criar um ambiente de negócios mais favorável à atração de sócios.
A falta de transparência sobre a precificação dos combustíveis é hoje um dos principais entraves ao interesse de investidores nesse mercado, que conviveu no passado recente com a política de preços congelados da Petrobras.
A ideia, segundo Celestino, é dar liberdade aos sócios na definição de preços. “Queremos deixar a prática de preços competitivos, prática de preços liberada para que os sócios decidam os movimentos de preços a serem feitos”, afirmou.
Parente destacou, ainda, que, mesmo com o plano de venda de ativos anunciado, a Petrobras não deixará de ser uma petroleira de relevância internacional. “Ela [Petrobras] não vai ser uma empresa menor em óleo e gás. Seremos uma empresa que produzirá 3,4 milhões de barris de óleo equivalente por dia [em 2021], portanto uma empresa bastante relevante no cenário internacional.”