O término da última reunião do Conselho de Administração da Petrobrás determina um marco na trajetória da empresa e toda a categoria petroleira nas últimas décadas. Desde as grandes dificuldades vivenciadas no período governo tucano, como as tentativas recorrentes de privatização, a estatal vive provavelmente a maior ameaça de desintegração dos últimos 15 anos.
Após a fracassada estratégia do governo FHC de pulverização, fatiamento e abandono da Petrobrás, cuja finalidade era a sua privatização, o governo Lula formulou uma nova estratégia, reconstruindo-a. A empresa expandiu exponencialmente sua taxa de investimentos, descobriu as enormes reservas de petróleo e gás na camada do pré-sal brasileiro, reassumiu o papel de integração da cadeia de energia, ampliou sua atuação em novos setores de energia sustentável, assumiu uma posição de grande player internacional por meio da realização de investimentos em vários mercados internacionais e se tornou, nos últimos anos, o maior símbolo global de sucesso tecnológico e inovador, chegando a produzir 800 mil barris por dia em apenas 8 anos de descoberta do pré-sal. Na crise internacional de 2008, ao lado dos bancos públicos, realizou um papel central na política anti-cíclica elaborada pelo Governo Federal que impediu uma recessão ainda mais grave da economia brasileira naquele momento.
No entanto, apenas seis anos depois, a nova gestão retoma a fadada estratégia do governo tucano. O projeto de recuperação proposta pela nova gestão é nada mais, nada menos, que o retorno, talvez mais intenso, do projeto tucano de fatiamento, diminuição e pulverização da Petrobrás. A resposta para crise da Lava-Jato e do mal resultado observado em 2014 atende uma antiga demanda dos mercados de capitais, representados pelos acionistas minoritários da empresa e pelos segmentos conservadores da sociedade brasileira. A opção é desinvestir brutalmente, abrir mão de setores não lucrativos e reduzir fortemente a atuação em segmentos que não estejam envolvidos com a área de exploração e produção. A expectativa é que, com essa nova estratégia, a empresa retome a confiança dos mercados e recupere sua trajetória de lucro. Neste sentido, as primeiras linhas da divulgação do novo Plano de Negócios, a empresa apresenta como objetivos fundamentais “a desalavancagem da Companhia e a geração de valor para os acionistas”.
Por outro lado, ao tomar essas iniciativas de redução dos investimentos, a Petrobrás esta ignorando todos os impactos sociais em várias regiões do país e seu papel fundamental de impulsionadora de vários outros segmentos da indústria, na geração de emprego e renda para a sociedade brasileira. A escolha foi a retomada da credibilidade com o mercado, em contrapartida, estamos perdendo a Petrobrás que, quando atua, materializa um Estado Nacional forte e envolvido com as demandas sociais do Brasil.
Para que não pareça exagero, veja os montantes que a nossa Petrobrás pretende desmobilizar nos próximos anos: redução de cerca de 37% dos investimentos da empresa para os próximos cinco anos, o que significa US$76,2 bilhões; a projeção da produção de petróleo se reduziu de 4,2 milhões de barris/dia para 2,8 milhões em 2020. Além disso, a estatal apresentou um plano de desinvestimentos, ou seja, VENDA de ativos que envolve US$15,1 bilhões durante 2015/2016 e US$42,6 bilhões em 2017/2018.
Como se não bastasse a estratégia de investimento, o embate político-ideológico se tornou totalmente convergente aos interesse únicos e exclusivos do mercado. Todas as alternativas colocadas pela FUP para financiamento da empresa – desoneração tributária, tomada de recursos com pagamento de óleo – foram prontamente refutadas e ignoradas pela Diretoria da empresa. Além disso, a posição da Diretoria em relação à alteração da lei do pré-sal – proposta pela oposição tucana – é que seja inserida na lei o direito de recusa da Petrobrás em adquirir os 30% da exploração do campo do pré-sal, ou seja, a empresa também concorda que possa abrir mão da sua exploração em certas situações.
Em suma, o resultado da reunião do Conselho, foi a estratégia de pulverização de áreas e descontinuidade de várias atividades, como petroquímica, distribuição e logística; a priorização de áreas altamente rentáveis impulsionando inclusive a venda de alguns negócios do E&P, inclusive no pré-sal. E, por fim, um forte afastamento do papel social da Petrobrás, tendo em vista a postura demonstrada pelos conselheiros sobre os interesses públicos e o papel social da Petrobrás, inclusive em confronto com os interesses do próprio petroleiro.
Para os trabalhadores, talvez seja o momento mais crítico observado desde a greve de 1995. É uma terrível coincidência que vinte anos após aquele momento, a categoria se depare, com uma nova tentativa de destruição da Petrobrás. Além das ameaças de uma redução ainda mais intensa dos empregos terceirizados, várias cidades e regiões, sofrem uma perspectiva de desarticulação das suas cadeias produtivas e dos setores de serviços. Assim como a empresa remontou à vinte anos atrás, é o momento da categoria petroleira ter a unidade e a força para evitar mais um retrocesso contra a maior empresa desse país.