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Revisão do Plano de Negócios e os riscos para a Petrobrás e os trabalhadores

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O desejo pelo desmonte da Petrobrás parece não ter fim. A estatal recentemente, anunciou que fez ajustes no seu Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2015-2019, no qual a previsão de investimentos passou de US$ 130,3 bilhões para US$ 98,4 bilhões, o que significa uma redução no valor de US$ 32 bilhões. Como sempre, a nota da companhia afirma que essa revisão no PNG tem como objetivo a desalavancagem e a geração de valor para os acionistas. Em outras palavras, as demandas dos trabalhadores pela preservação dos ativos nas mãos da empresa têm sido relegadas a um segundo plano, em benefício do mercado; entretanto, manteremos nossa postura intransigente na luta por uma Petrobras soberana e pela manutenção dos direitos da categoria.

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Revisão do Plano de Negócios e os riscos para a Petrobrás e os Trabalhadores

O desejo pelo desmonte da Petrobrás parece não ter fim. A estatal recentemente, anunciou que fez ajustes no seu Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2015-2019, no qual a previsão de investimentos passou de US$ 130,3 bilhões para US$ 98,4 bilhões, o que significa uma redução no valor de US$ 32 bilhões. Como sempre, a nota da companhia afirma que essa revisão no PNG tem como objetivo a desalavancagem e a geração de valor para os acionistas. Em outras palavras, as demandas dos trabalhadores pela preservação dos ativos nas mãos da empresa têm sido relegadas a um segundo plano, em benefício do mercado; entretanto, manteremos nossa postura intransigente na luta por uma Petrobras soberana e pela manutenção dos direitos da categoria.
Um dado curioso da nota apresentada pela estatal é que a produção média do petróleo no Brasil, em 2015, superou as expectativas, com um acumulado total de 2,128 milhões de barris por dia (bpd) face a uma previsão de 2,125 milhões. Com o anúncio do corte de investimentos, para 2016 há mudanças na previsão: ela saltou de 2,185 milhões bpd para 2,145 milhões. Ou seja, os dados de 2015 mostram que, mesmo a existência de um cenário do mercado desfavorável (alta do dólar e queda do preço do barril de petróleo) não foi suficiente para parar a alta da produção de petróleo, sobretudo na área do pré-sal, que bateu recordes em 2015. O movimento grevista da categoria petroleira, tão criminalizado por forças sociais conservadoras, como o grande empresariado e a grande mídia, tampouco gerou impactos negativos no ritmo da produção; além disso, obteve conquistas fundamentais na preservação de direitos dos trabalhadores e na garantia da discussão da Pauta pelo Brasil.

O novo PNG revela a perpetuação da incessante busca em vender ativos fundamentais da Petrobras. Depois da concretização da venda de parte da Gaspetro, a venda de parcela da BR Distribuidora continua no radar e ainda há a vontade de se desfazer de 180 campos maduros, o que equivale a mais da metade das áreas atuais de produção. Agora, o jornal Folha de S. Paulo, de 13/01/2016, divulga a notícia de que a Petrobrás pretende colocar à venda a fatia que lhe pertence na Braskem, que corresponde a 36%, o que equivale a R$ 5,8 bilhões. Some-se a isso a divulgação, pelo jornal O Estado de S. Paulo, de que o orçamento da Transpetro será reduzido, passando de R$ 2,36 bilhões (2015) para R$ 1,34 bilhão neste ano. No caso da Transpetro, a matéria ainda mostra que o programa de construção de navios foi deixado de lado, ao passo que o orçamento da BR Distribuidora está reservado somente para fins de manutenção.

O descaso com a BR Distribuidora e sua possível venda, por exemplo, impacta numa das principais fontes de receita da estatal: o mercado interno de derivados. Para se ter uma ideia, o volume de vendas desse setor aumentou 5% no período entre 2010 e 2014, mas o PNG (apresentado em junho de 2015) traz uma visão muito reticente sobre as grandes possibilidades desse mercado, já que projeta um aumento de somente 1,6% até 2020. Dessa forma, há uma indicação de que se priorizarão as importações de gasolina, que deverão continuar em níveis elevados, o que pode representar riscos para a política de preços da companhia.

Outro ponto vulnerável do PNG é que ele se insere em uma conjuntura adversa de venda de ativos. Como atualmente há uma grande oferta, o valor dos ativos é baixo, o que não garante geração de caixa suficiente para a Petrobras. Além disso, como há muitas incertezas sobre a variação do preço do petróleo e devido ao alto endividamento de empresas colocadas à venda, a avaliação dos valores dos ativos encontra-se dificultada.

Desse modo, no que concerne à revisão do PNG, votamos contra, porque, como sempre, não concordamos com suas diretrizes de venda de ativos considerados estratégicos para o desenvolvimento nacional. Além disso, a revisão do PNG não foi discutida com os trabalhadores, ainda que o Grupo de Trabalho da Pauta pelo Brasil tenha sido instalado em dezembro de 2015 e que tenha sido garantida uma deliberação sobre suas propostas. Nesse sentido, devemos seguir pressionando para que as demandas da categoria sejam ouvidas e cumpridas, pois os riscos de venda de ativos são largamente conhecidos: diminuição no ritmo de geração de emprego, queda na geração de renda, mais terceirizações e precarização das relações de trabalho.

A aceleração do Plano da Venda de Ativos e suas contradições

Recentemente, foi veiculada uma matéria na revista Exame, de 16/12/2015, que afirma que a Petrobrás planeja acelerar a venda de ativos em 2016 e que, segundo o presidente da estatal, ela vai continuar a perseguir linhas de financiamento “atrativas”. O que chama mais atenção na reportagem é o trecho “expectativa de fazer grandes desinvestimentos neste ano”. Ora, é preciso questionar essa afirmação e começar nossa argumentação relembrando que, em 2015, houve uma busca incessante em vender ativos fundamentais da Petrobrás: parte da BR Distribuidora e da Gaspetro, e ainda 180 campos maduros, o que equivale a mais da metade das áreas atuais de produção terrestre.

Devemos recordar, também, que o principal objetivo do plano de desinvestimentos da Petrobrás é desalavancagem (redução da dívida) e a geração de valor para os acionistas. Isso mostra a contradição marcante na gestão da empresa. Em reportagem do jornal Valor, de 28/04/2015, o presidente da Estatal afirmou que o plano de venda de ativos não resolve o problema da dívida da companhia. Sendo assim, por quê colocar isso como um dos principais objetivos do plano de negócios e gestão 2015/2019? Não faz sentido.

Além disso, lembramos ainda que uma das pautas da greve da categoria petroleira consistia na revisão desse plano de negócios. Reportagem do jornal Folha de S. Paulo, de 12/11/2015, mostra que a companhia não estava disposta a negociar isso com os trabalhadores. Quais as conclusões que se podem extrair dessa conjuntura? As mesmas de sempre, ou seja, o fato de que os gestores da estatal se preocupam em agradar o mercado e seus agentes, em detrimento do interesse social e da preservação da soberania nacional.

A afirmação de que há um planejamento para concentrar a venda de ativos em 2016 evidencia dois aspectos: o primeiro trata-se do objetivo dos gestores, que consiste essencialmente em acalmar as preocupações do mercado, garantindo a ele que a companhia se recuperará, sob a lógica de uma “melhoria de gestão”, e consequentemente manterá seu compromisso de assegurar lucro aos acionistas; o segundo, em contrapartida, é o de que o plano de desinvestimentos da companhia não se sustenta, como mostram as tentativas fracassadas de vender parcela da BR Distribuidora e da Gaspetro, dentre outros projetos já estruturados. Esse fracasso, portanto, não se deve, somente, ao “mau” momento do mercado. É importante ter em mente que, por mais que a Petrobrás se recuse a negociar, as pressões sociais têm surtido efeito, seja da FUP, dos trabalhadores, de políticos e de setores do governo. Por isso, continuaremos nossa luta para preservar que os ativos da estatal não sejam entregues ao mercado, de modo a garantir que as demandas da sociedade por uma Petrobrás 100% pública sejam atendidas.

Resultados financeiros e a pauta pelo Brasil

Enquanto a grande imprensa alardeia o fato de a Petrobrás ter anunciado que obteve prejuízo no terceiro trimestre deste ano, ela esquece de outros dados que são mais importantes para verificar o estado em que a estatal se encontra atualmente. O jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, destaca que o prejuízo atingiu R$ 3,8 bilhões, o que representa um valor 30% menor do que aquele alcançado no mesmo período de 2014. A reportagem do jornal ainda opina que o balanço divulgado pela PETROBRAS – afora os problemas de câmbio, de queda do preço do petróleo e de pendências com a Receita Federal – mostra que “o plano de corte de investimentos e redução de custos operacionais apresenta resultado”. Já o portal G1 ressalta o lucro líquido obtido nos três trimestres de 2015, no valor de R$ 2,102 bilhões, e sublinha que esse número significa 58% a menos na comparação com o mesmo período do ano passado. Em comum entre essas matérias, reside o fato de se preferir dar destaque a números que indicam que, supostamente, a empresa vai mal. Entretanto, o próprio balanço da PETROBRAS mostra que a história não é bem assim.

Em primeiro lugar, é preciso ressaltar que os resultados operacionais da estatal são muito bons. Os relatórios financeiros dos dois primeiros trimestres de 2015 divulgados pela Petrobrás, na comparação com os dois primeiros trimestres de 2014, já haviam mostrado que os resultados deste ano são melhores. No primeiro e segundo trimestres de 2014, o lucro operacional obtido foi, respectivamente, R$7,57 bilhões e R$8,84 bilhões; já no primeiro e segundo trimestres de 2015, o lucro operacional foi, respectivamente, de R$13,33 bilhões e R$9,48 bilhões.

O último relatório da companhia também apresenta dados bastante positivos. Quando considerado o acumulado dos nove primeiros meses de 2015, se comparado ao mesmo período de 2014, o lucro operacional aumentou 149%, saltando de R$ 11,5 bilhões para R$ 28,6 bilhões, um número bastante expressivo. No terceiro trimestre de 2014, o lucro operacional apresentou prejuízo de R$ 4,92 bilhões; já no terceiro trimestre deste ano, o valor foi positivo, saltando para R$ 5,81 bilhões. Lembrando que o lucro operacional significa o resultado daquilo que a PETROBRAS ganha, menos os custos, chega-se à óbvia conclusão de que a empresa está melhor neste ano do que no ano passado, ou seja, ela está passando por um evidente processo de recuperação, ao contrário do que a mídia afirma.
Além desses números indicativos da solidez da Petrobrás, deve-se lembrar, também, que o balanço da estatal demonstra a força da classe petroleira, porque reivindicações da Pauta pelo Brasil estão sendo atendidas. No que diz respeito a questões sobre endividamento, por exemplo, a Pauta pelo Brasil propõe “alongar e viabilizar operações financeiras que troquem dívidas em dólares, por reais”. A PETROBRAS já acenou positivamente a isso, tanto que trocou uma dívida com o Banco do Brasil de US$ 1 bilhão para R$ 4 bilhões e prolongou o prazo para pagamento, sublinhando ainda, que essa se mostrou a alternativa mais vantajosa para contrato de financiamento. No próprio balanço, destaca-se que o prazo médio da dívida aumentou de 6,10 anos, em 31/12/2014, para 7,49 anos em 30/09/2015.

Outro aspecto defendido pela Pauta é a reformulação da política de geração de caixa, em que se defende, sobretudo, a elaboração de “uma política de preço, para os derivados do petróleo, de longo prazo e adotar critérios seletivos que protejam os consumidores de baixa renda, como o gás de cozinha por exemplo”. Em relação a isso, o balanço também ressalta que, a partir do dia 30/09/2015, houve aumento de 4% para o diesel e 6% para a gasolina.

Por fim, uma outra reivindicação da Pauta refere-se a fontes de investimento e recomenda “estabelecer relações financeiras com o Banco do BRICS e o Banco de Infraestrutura da China”. Esse ponto também já está sendo contemplado na estratégia da estatal. O jornal Valor, de 16/11/2015, por exemplo, informa que a companhia está negociando empréstimos com agências de crédito estrangeiras, e dentre elas está uma japonesa. Além disso, neste ano, a Petrobrás já anunciou um contrato de financiamento com o Banco de Desenvolvimento da China, no valor de US$ 3,5 bilhões, e está, de acordo com informações do jornal O Globo, de 07/10/2015, negociando com investidores estrangeiros – dentre eles, investidores chineses – um aporte financeiro para poder concluir as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ). No que concerne ao Banco dos BRICS, ainda não é possível estabelecer relações financeiras com ele porque suas primeiras operações devem ter início somente em janeiro de 2016.
De qualquer forma, o que importa salientar é que a luta pela defesa da soberania nacional e da PETROBRAS como empresa integrada de energia segue firme, e que não será aceito, pelos trabalhadores, nenhum retrocesso na conquista dos seus direitos.

Questionamentos acerca da venda da Gaspetro

O Conselho de Administração (CA) da Petrobrás aprovou, em sua última reunião, a venda de 49% da Gaspetro para a Mitsui Gás e Energia do Brasil, que é subsidiária da japonesa Mitsui, o que comprova o equívoco no processo de tomada de decisão dos gestores da companhia. Como se não bastasse, segundo o jornal Folha de S. Paulo, de 23/10/2015, o valor da venda é de somente R$ 1,9 bilhão. O site da Mitsui destaca, ainda, que a empresa é detentora de 15% das ações da Valepar S.A., controladora da Vale. Por fim, como destaca o Portal G1 de 05/08/2015, a empresa japonesa é alvo da Operação Lava-Jato. Esses fatos levam a alguns questionamentos importantes sobre essa operação de venda.

Primeiramente, é preciso relembrar que, de acordo com o jornal O Globo, de 13/07/2015, a Gaspetro é dona de aproximadamente 7000 quilômetros de gasodutos e que, segundo a revista Exame, de 17/09/2015, ela vale, aproximadamente, US$ 2,6 bilhões. Informe da Federação Única dos Petroleiros (FUP), de 26/10/2015, mostra que a Gaspetro obteve lucro líquido de R$ 1,6 bilhão em 2014 e sublinha análises realizadas pelos bancos JP Morgan e Brasil Plural, enfatizando que a PETROBRAS poderia arrecadar até US$ 1,3 bilhão com a venda da Gaspetro, valor que gira em torno de R$ 5 bilhões, aproximadamente. Considerando todos esses números apresentados, é evidente concluir que o valor de venda é mais baixo do que o real, o que torna a operação bastante duvidosa. Ou seja, afora o retrocesso de vender um ativo estratégico para uma empresa privada, pretende-se, na verdade, praticamente entregá-lo de mão beijada para o mercado.

Em segundo lugar, devem-se questionar as relações entre a presença de Murilo Ferreira no CA e sua função como presidente do Conselho de Administração da Vale. O informe da FUP ressalta que as notícias sobre a venda da Gaspetro começaram a ser divulgadas em março de 2015, sendo que, em abril, Ferreira foi nomeado presidente do CA. Em junho, a Mitsui foi tida como uma das potenciais compradoras e, em setembro, Murilo Ferreira pediu licença do CA, na mesma época em que foi anunciado que a PETROBRAS estava em negociações finais para a venda da Gaspetro. Levando em consideração o fato de a Mitsui possuir 15% das ações da Vale, deve-se questionar se foi facilitada à empresa a operação de compra da Gaspetro. Por mais que não seja possível fazer nenhuma argumentação baseada em fatos, no mínimo é curioso notar que a Mitsui realizou a compra de uma empresa da Petrobrás, sabendo que o presidente do CA à época das negociações era também o presidente da Vale.

Finalmente, o fato de a Mitsui estar envolvida nas investigações da CPI da Petrobrás gera grandes dúvidas sobre se o negócio faz sentido. Em uma conjuntura em que a estatal se encontra fragilizada porque sofre pressões dos setores mais retrógrados da sociedade, o que menos se espera dos gestores é que a companhia seja atacada e que se abra mão de sua autonomia decisória. Além disso, deve-se reiterar que quem mais sofrerá com a venda da Gaspetro são os trabalhadores, afinal processos de privatizações ocorrem em nome da “otimização” de custos e de supostas melhorias de práticas de gestão, que implicam sempre perdas de direitos facultados aos trabalhadores. Em outras palavras, não há garantia de condições ideias de trabalho, pois pode haver jornadas de trabalho exaustivas, maior quantidade de terceirizações, aumento do desemprego e diminuição de salários.

Por essas razões, nos posicionamos contrariamente à venda da Gaspetro. Fomos os únicos a adotar essa postura no CA e seguiremos firmes em defesa da Petrobrás!

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