Por Sérgio Gabrielli
1. O marco regulatório do Pré-Sal
Em 2010, o Congresso Nacional aprovou o novo marco regulatório para o Pré-sal brasileiro, que se organizava em torno de quatro pilares: o contrato de partilha de produção, em lugar das concessões, a Petrobras como operadora única e com um mínimo de 30% do Pré-sal, a política de conteúdo nacional que garantia que quase dois terços dos equipamentos necessários para a produção de petróleo deveriam ser fabricados no Brasil, e a criação de um Fundo Público, que receberia os ganhos do Governo com a produção do petróleo e financiaria a educação dos nossos jovens.
O presidente Lula e a presidenta Dilma definiram que as plataformas, sondas, equipamentos submersos e equipamentos de superfície, embarcações de apoio e outros insumos que pudessem ser feitos no Brasil, seriam feitos no Brasil. Isto deveria sustentar cerca de um milhão de postos de trabalho no país.
Com as investigações da Operação Lava Jato, as empreiteiras envolvidas na produção destes equipamentos estão demitindo os trabalhadores e fechando as obras. A incapacidade de fornecerem o que a Petrobras precisa significa que empresas internacionais virão substituí-las e haverá atraso na produção de petróleo no Brasil.
O contrato de partilha está sob ameaça, com alguns projetos de lei em tramitação no Congresso, tentando fazer voltar atrás para os contratos de concessão. A grande diferença é que na concessão, como as empresas petrolíferas podem não encontrar petróleo, elas calculam seus riscos e fixam, nos leilões, quanto o governo vai receber no futuro. No contrato de partilha, a propriedade do petróleo permanece com o Estado e as empresas partilham a produção futura com o Governo, já que o risco de não achar petróleo no Pré-sal é muito baixo.
A função da Petrobras como operadora única é fundamental para garantir o desenvolvimento tecnológico e, dada a escala de produção, dar ganhos de escala para viabilizar a política de conteúdo nacional.
Tirar a Petrobras da situação de operadora única, como pretendem alguns projetos de lei, é enfraquecer as possibilidades de criação de emprego e renda no país e abrir o desenvolvimento desta imensa riqueza nacional para as operadoras internacionais.
O Fundo Público não está ainda sob ameaça, mas os fluxos de recursos para ele serão muito menores, com o enfraquecimento da Petrobras e das empresas
brasileiras de fornecimento de equipamentos para o setor petróleo.
2. O tamanho do Pré Sal
A província do Pré-Sal foi descoberta pela Petrobras em 2007 representando uma das maiores descobertas da história do petróleo no mundo. Com o conhecimento acumulado ao longo da história da prospecção geológica de nossa plataforma continental, enormes desafios tecnológicos foram superados pela Petrobras na análise dos dados sísmicos abaixo de dois quilômetros de camada de sal, encontrando os reservatórios que, pelo tamanho e produtividade dos poços, mostrou-se rapidamente uma enorme riqueza, tendo custo de extração sem participações governamentais inferiores a 10 dólares o barril. Hoje, oito anos depois da descoberta, já foi superada a marca de 800 mil barris diários e a média mensal de produção corresponde a mais de um terço da produção brasileira.
A magnitude dos investimentos e a gigantesca máquina produtiva com equipamentos submersos, tubulações em muitos quilômetros, sondas ultra sofisticadas para os trabalhos de perfuração, plataformas altamente tecnológicas, centenas de barcos de apoio e bases terrestres de suporte, além dos desafios da logística de suprimentos, produtos e pessoas, colocam o desenvolvimento da produção como um dos maiores empreendimentos da história do petróleo.
A legislação brasileira, aprovada em 2010, aproveitava este tamanho para impulsionar um modelo de desenvolvimento econômico para o país.
Os recursos do subsolo do Pré-sal podem chegar a centenas de bilhões de barris, com um volume recuperável que atrai as atenções do centro dos interesses da geopolítica mundial do petróleo. Por outro lado, dentro do Brasil esta riqueza pode representar uma solução para os grandes problemas nacionais, especialmente a redução da pobreza e da desigualdade, mas também pode significar aumentar sua dependência, se não acompanhado de medidas que estimulem outros setores da economia.
Encontrado na Bacia de Santos, passando pela Bacia de Campos e chegando à Bacia do Espirito Santo, a província do Pré-sal ainda é pouco conhecida em termos geológicos, com concessões em uma pequena parte e apenas um bloco sob o regime de Partilha de Produção.
3. O conhecimento acumulado pela Petrobras como única operadora no Brasil…
A história do petróleo no Brasil tem pouco mais de um século e meio, iniciando-se com a concessão de direito de extração de betume em terrenos situados às margens do rio Maraú, na Bahia, em 1858.
Mais tarde, em 1930 iniciam-se os esforços para prospecção da “lama preta” de Lobato, também na Bahia, onde, em 1939, foi descoberto o petróleo em território nacional.
Em 1941, já sob a jurisdição do recém criado CNP, inicia-se a primeira produção comercial de petróleo no Brasil, no campo de Candeias, na Bahia.
À essa altura já haviam sido feitas as primeiras descobertas de ocorrências de petróleo em terra, incluindo gás no Amazonas e em Alagoas.
Fervilha no Brasil em meados do século passado a discussão sobre o direito às riquezas do nosso subsolo. A campanha “O petróleo é nosso” culmina com a decretação do monopólio da União na exploração, produção e refino, que passa a ser exercido, pela Petrobras, criada em 1953, com tal finalidade.
Com isso, a Petrobras consolida o conhecimento geológico e geofísico existente até então e passa a desenvolver todas as atividades, “do poço ao posto”.
Assim, prospectou e descobriu petróleo e gás em terra, nas bacias sedimentares do Recôncavo/Tucano, Sergipe/Alagoas, Rio Grande do Norte/Ceará, Amazonas/Solimões, Parnaíba e etc…, partindo então, no final da década de 60 para a prospecção das bacias marítimas brasileiras.
Com a possibilidade de trabalhar integrando todo o conhecimento geológico de cada bacia sedimentar, interpretando os novos dados de campanhas de mapeamentos e levantamentos sísmicos dentro de cada bacia e entre as bacias, a Petrobras passa a ter o domínio do conhecimento das bacias terrestres e da história de sedimentação em nossa ampla plataforma continental.
Esse conhecimento integrado foi o diferencial competitivo que permitiu à Petrobras construir modelos conceituais sobre o arcabouço geológico das bacias sedimentares brasileiras, com visão holística e testá-los ao dos prospectos geológicos interpretados ao longo das nossas bacias sedimentares.
Ter essa visão panorâmica permitiu aos geólogos da Petrobras entender a evolução sedimentar de nossas bacias sedimentares, o que só é possível com o conhecimento do todo e não apenas de algumas porções esparsas. Isso deu à Petrobras o poder conceitual, o conhecimento, para enxergar mais longe e mais fundo, permitindo-lhe correr riscos de modo calculado, o que permitiu ao Brasil a chance de descobrir as imensas reservas de petróleo do Pré-sal.
Se tivesse trabalhado apenas em “áreas isoladas” ou “blocos exploratórios”, obtidos em leilões, muito provavelmente a Petrobras não teria conseguido desenvolver o conhecimento técnico integrado que lhe permitiu montar modelos geológicos conceituais robustos, os quais conduziram à descoberta do Pré-sal.
4. O papel do operador
O operador na indústria de petróleo é o responsável pelas escolhas tecnológicas, pela aquisição, processamento e interpretação dos dados geológicos e pelo relacionamento com os órgãos reguladores, com os fornecedores e com a operação diária do campo.
As operadoras mantém os contratos com as empresas de serviços e consolidam o conjunto dos dados, ficando com a visão geral das soluções sobre os desafios. São elas também as que contratam, os construtores dos equipamentos, sondas, plataformas, sistemas submersos, plantas de separação e de processo, barcos de apoio e o suporte da operação. Só a operadora tem a visão do conjunto de soluções e com isto tem vantagens na aplicação destes conhecimentos, tanto no campo em desenvolvimento, como nos blocos em exploração.
O conhecimento tecnológico adquirido pela operação é fundamental para a capacidade de extrair o máximo de riqueza de um campo, sem ameaçar a curva futura de produção.
As reservas são efetivamente desconhecidas até que o último barril seja produzido e o aprendizado proveniente da própria produção faz continuas reavaliações do tamanho das reservas e da lucratividade de um campo de petróleo.
Ser operador garante a apropriação da maior parte destes ganhos e é por isso que a maioria das grandes empresas de petróleo prefere mais operar os campos do que ser apenas um sócio não operador.
Uma das grandes diferenças entre as grandes petroleiras e as empresas prestadoras de serviços do setor petrolífero é o assumir o risco de exploração e o desenvolvimento dos investimentos para a produção de petróleo e gás. As empresas de serviços se contentam com um pagamento fixo, enquanto as petroleiras sabem que suas opções de riscos podem levar a ganhos excepcionais com o desenvolvimento do campo e a adição do conhecimento sobre o campo que advém da operação.
As operadoras compartilham parte deste conhecimento com os sócios não operadores e portanto é muito comum a constituição de consórcios para desenvolver as atividades de um campo. O compartilhamento de riscos e divisão de ganhos futuros, no caso de sucesso, além da diminuição do peso financeiro sobre o operador, fazem desta atividade uma constante constituição e modificação de consórcios entre os que operam e outros sócios.
Entradas e saídas de sócios nas diversas fases de um projeto de exploração e produção de petróleo são comuns e os Comitês Operacionais são os organismos em que os interesses dos consórcios – operador e demais sócios – se encontram para avaliação e aprovação dos projetos. Cada Comitê Operacional busca a melhor decisão de cada um dos campos sob sua gestão.
5. A vantagem do operador único
A vantagem primordial de operar todo o Pré-sal é poder manter o diferencial competitivo do conhecimento desenvolvido ou “know how” que permitiu à Petrobras chegar onde chegou.
Operar significa, antes de tudo, definir os levantamentos de dados cruciais que deverão ser feitos em cada bloco, como sísmica, geoquímica, testemunhagens de rochas, etc… Depois, processar os dados obtidos com algorítimos desenvolvidos internamente, os quais serão retroalimentados com os novos conhecimentos adquiridos nos dados que estão sendo processados. Por último interpretar os novos dados à luz do conhecimento geológico adquirido ao longo da história da Petrobras e montar os novos modelos geológicos conceituais para os possíveis prospectos mapeados no bloco, com os paradigmas geológicos já antes testados.
Enfim, operar é constituir e manter equipe técnica com domínio integral das informações estratégicas e operacionais, permitindo uma espiral de conhecimentos, que só cresce com o volume das operações.
No caso de províncias petrolíferas muito grandes nem sempre ter um operador para cada campo é a solução mais eficiente, principalmente se o conhecimento disponível sobre as bacias não é simetricamente distribuído e se a infra estrutura previamente existente na região não é amplamente utilizável.
O Golfo do México, o Mar do Norte e a costa Oeste da África tiveram experiências com múltiplos operadores e o desenvolvimento da produção foi muito mais lento do que no Pré-sal brasileiro, com um operador praticamente único. Os primeiros 500 mil barris daquelas bacias levaram muitos anos a mais do que os primeiros 500 mil barris no Brasil. Com oito anos de descoberta, o pico da produção do Pré Sal já superou 800 mil barris, o que é inédito nestas outras experiências de produção no mar.
A Petrobras não somente tem o maior conhecimento específico da Geologia e Geofísica da região, como conhece muito a cadeia de fornecedores dedicados a este tipo de produção e desenvolveu a capacidade de especificar as necessidades tecnológicas que podem ter soluções mais rápidas e eficientes sobre os desafios da produção.
O tamanho da Petrobras no Brasil e sua presença em outros campos fora do Pré-sal permitem também uma otimização de suas frotas de suporte, assim como uma melhor otimização na utilização de equipamentos especiais de difícil mobilização. Seus contratos longos com sondas e plataformas dão uma grande vantagem competitiva para a Petrobras.
Estas vantagens já existentes para a Petrobras de hoje serão potencializadas com o tamanho da futura exploração e desenvolvimento da produção do Pré-sal. O número de sondas de perfuração necessárias, as plataformas flutuantes de produção, os grandes gasodutos e oleodutos, os milhares de equipamentos menores dedicados, as centenas de embarcações de apoio e a montagem de bases terrestres de suporte chamam para um gigantesco esforço de desenvolvimento de cadeia de fornecedores, que só se viabilizará pela escala. Se tivermos múltiplos operadores, as escolhas de técnicas, tecnologias e de fornecedores pulverizará este esforço, fortalecendo as importações, enfraquecendo o desenvolvimento tecnológico nacional e impedindo a expansão deste setor no país.
6. Acabar a operação única é desmontar o Pré-Sal
O Projeto de Lei do Senado PLS 131, do Senador José Serra propõe reduzir o papel da Petrobras no Pré-sal, retirando dela a condição de operadora única e o direito de uma participação mínima de 30% do petróleo extraído. Conseguindo a aprovação da urgência na sua tramitação, com audiência pública marcada para o próximo dia 30, este é a maior presente ameaça ao marco regulatório para o Pré-Sal aprovado pelo Congresso em 2010.
Há também outros projetos em tramitação no Congresso para acabar com o contrato de partilha de produção e para flexibilizar as exigências de conteúdo nacional dos fornecedores.
O Senador Roberto Requião, do Paraná, desmontou muitos dos argumentos utilizados na justificativa do Senador Serra. Comentaremos alguns deles abaixo:
1. 1. “A conjuntura internacional” prejudica “a rentabilidade dos projetos do pré-sal”, devido redução do preço do petróleo que poderia tornar o pré-sal inviável.
O preço do petróleo é cíclico desde os anos setenta, quando o cartel da OPEP passou a intervir no mercado, que por seu turno passou a adotar mecanismos de precificação de curto prazo, semelhantes as bolsas de valores e especuladores com mercados futuros.
A percepção sobre as possibilidades futuras de ajuste da produção para acompanhar as variações da demanda afeta fortemente estas variações de preços. No início dos anos 2000, guerras no Iraque, dificuldades geopolíticas no Oriente Médio, produção desorganizada na Rússia e atrasos de projetos no Mar Cáspio, greves na Venezuela e quase inexistência de novas grandes descobertas davam a impressão de que o petróleo iria acabar e os preços reagiram, alcançando mais de 120 dólares o barril em 2008. A demanda mundial de petróleo, apesar de contida nos países desenvolvidos, crescia aceleradamente na China, Índia e países emergentes forçando a defasagem entre oferta e procura.
Os biocombustíveis e fontes alternativas de energia não substituíam o petróleo e o gás no horizonte previsível.
Três movimentos, sendo dois no mundo do petróleo e gás, ocorreram depois de 2008 que modificaram este cenário. No mundo das Finanças, a crise do sistema financeiro americano se espalhou pelo mundo em uma crise de dimensões colossais, da qual o mundo ainda não saiu completamente, sete anos depois. Isto reduziu a demanda de combustíveis derivados do petróleo nos EUA e na Europa, enquanto o Japão aumentava a demanda de gás por causa do acidente de Fukushima e a paralização das usinas de energia nuclear.
No mundo dos hidrocarbonetos, os EUA fizeram uma verdadeira revolução, deixando de ser um pais importador de petróleo, para ser o maior produtor do mundo. A generalização de técnicas de fracking na produção do shale gas não somente reverteu completamente a situação americana de grande importador de gás, para ser um país hoje já potencialmente exportador do hidrocarboneto, como associado a ele vinha o condensado, um petróleo ultra leve, isso deixou os EUA auto suficiente neste tipo de petróleo.
O outro movimento no mundo do petróleo ocorreu no Brasil com a descoberta dos gigantescos reservatórios do Pré sal. Apesar da descrença de muitos, a Petrobras conseguiu uma proeza notável de praticamente ter 100% de sucesso exploratório, encontrando petróleo em todos os poços perfurados, quando a média mundial é de 20% de acerto. Não somente o sucesso exploratório era notável, como o volume e produtividade dos reservatórios descobertos eram altamente competitivos mesmo a preços declinantes do petróleo. A Petrobras anuncia que o custo de extração é de menos de 10 dólares por barril, sem as participações governamentais, o que deve dobrá-lo, sendo perfeitamente compatíveis com os atuais preços do petróleo em torno dos 60 dólares o barril.
Neste preço atual do petróleo alguns projetos marginais do shale gas americano e os projetos as areias betuminosas do Canadá tornam-se de difícil viabilidade econômica e estão parando. O número de sondas em operação nos EUA vem declinando, indicando que os atuais preços do petróleo começam a atingir a produção do atual maior produtor mundial.
Isto também é fruto de uma mudança da política da OPEP, que não aceitou mais o papel de equilibrador do mercado mundial, deixando os preços caírem, sem ajustar sua própria produção, porque com isto enfraqueceria o shale gas americano, tendo também como consequência o enfraquecimento da Rússia, do Irã e da Venezuela, adversários geopolíticos dos EUA. Podem também ter buscado, como efeito colateral, frear o ritmo da produção do nosso Pré-sal.
Ademais, quanto à cotação do brent, é importante lembrar que, entre 1987 e 1999, mesmo com o barril variando em torno de 25 a 30 dólares, a produção brasileira dobrava, passando de 500 mil para um milhão de barris por dia!
1. 2. “O pré-sal é grande demais”
Não há dúvidas de que a riqueza já encontrada e a ser encontrada no Pré-sal é muito grande e é exatamente isto que permite utilizar sua escala, para evitar os males da indústria do petróleo: a inibição de outras atividades e a excessiva dependência de um produto com preços internacionais flutuantes e que vai se exaurir algum dia.
É por isso que, sabiamente o Congresso Nacional, na legislação de 2010, definiu que o ritmo de abertura de novas áreas estaria condicionada pelo aumento da capacidade da indústria brasileira de componentes e suprimentos para a atividade petrolífera. A rapidez do crescimento da indústria brasileira de para atender as necessidades de conteúdo nacional determinaria o ritmo de crescimento da exploração e não vice versa. Neste sentido, a exposição da Petrobras como operadora única estava condicionada pela capacidade de crescimento da cadeia de fornecedores nacionais.
O volume de produção de uma empresa de petróleo está condicionada por suas reservas e sua capacidade de mobilizar fornecedores e sua escala de produção depende destas duas variáveis, portanto não tem sentido falar em “grande demais”. Se há reservas, se há capacidade técnica e de gestão e se há possibilidade de mobilização de fornecedores a produção ocorrerá, desde que os custos sejam inferiores aos preços, como é o caso do Pré-sal.
Como disse o Senador Roberto Requião:
A Petrobras, como operadora única, conduz os empreendimentos, o que permite a seleção e o desenvolvimento de fornecedores de bens e serviços. Isso permite a implementação de uma política industrial para maximizar o conteúdo local, em bases competitivas, e garantir o desenvolvimento nacional.
A operação e a condução dos empreendimentos pela Petrobras possibilitam que mais e melhores empregos sejam criados no Brasil. As multinacionais contratam serviços especializados em seus países de origem e empregam especialistas, supervisores, gerentes e executivos estrangeiros.
1. 3. Há dúvida de que a Petrobras seja capaz de abastecer o mercado interno de Petróleo em 2020, se for operadora exclusiva do pré-sal.
Não há a menor possibilidade de empresas que entrem em operação agora tenham possibilidade de influir na produção de 2020. Os contratos para a produção deste ano já estão em desenvolvimento hoje, e os atrasos decorrem da construção dos equipamentos que estão ocorrendo, também como resultado da operação Lava Jato e campanha contra a Petrobras.
Além do mais, com a produção já em andamento e com a melhora da recuperação dos campos maduros da Bacia de Campos, do pós-Sal, e
considerando as perspectivas de pequeno crescimento econômico nos próximos anos, o aumento da demanda deve ser menor do que foi no passado.
Temos que levar em conta, também que o adiamento da construção das refinarias no Brasil faz com que toda a produção adicional da Petrobras no Brasil se destine para as exportações e não para o consumo interno brasileiro.
Por outro lado, como argumenta o Senador Roberto Requião:
Os blocos já licitados e as áreas já contratadas e em desenvolvimento são suficientes para atender ao mercado interno por décadas. A urgência em promover novas licitações, para as quais poderiam vigorar alterações na atual legislação, não interessa ao desenvolvimento nacional. A realização de novas licitações e a aceleração do ritmo de produção do pré-sal beneficiaria os países importadores na medida em que haveria aumento da oferta mundial e pressão para queda dos preços. Além disso, favoreceria empresas multinacionais, cujas reservas estão em declínio.
1. 4. A Lava-Jato pode levar a uma “desorganização de suas atividades” e a “uma situação quase insustentável” para a empresa, a tal ponto que a impediria de “implementar” seus “programas de investimento”.
Apesar de ainda apresentar grandes flutuações, as ações da Petrobras apresentam uma trajetória de recuperação nos últimos dois meses, a empresa conseguiu retornar, com sucesso, ao mercado de capitais para financiar suas necessidades e os dados operacionais não apresentam grandes preocupações. O endividamento continua alto, mas apresenta uma trajetória em busca de equilíbrio.
A Petrobras obteve lucro líquido de R$ 5,3 bilhões no primeiro trimestre de 2015 e um lucro operacional de R$ 13,3 bilhões, 76% superior ao do primeiro trimestre do ano passado.
A Petrobras terminou o trimestre com R$ 68,2 bilhões em caixa.
O endividamento líquido sobre o Ebitda, que chegou a 5,02 vezes no terceiro trimestre de 2014, foi de 3,86 vezes no primeiro trimestre de 2015, apesar de ainda alto, reafirmando sua trajetória declinante.
A produção de petróleo e gás natural da Petrobras (Brasil e exterior) cresceu 11% em relação ao 1º trimestre de 2014, atingindo a média de 2 milhões e 803 mil barris de óleo equivalente por dia (boed).
O Pré-Sal produziu 800 mil barris/dia em abril de 2015, com custo de extração, sem as participações governamentais de menos de 10 dólares por barril, não só demonstrando a sua viabilidade econômica, mesmo em uma conjuntura de preços baixos, como revelando a extraordinária capacidade técnica da empresa em reduzir os seus custos e aumentar a produtividade.
Comparada com a Exxon (2.277 mil), com a BP (2.074 mil), com a Chevron (1.801 mil) e com a Shell (1.542 mil), os 2.249 mil barris/dia de produção de petróleo da Petrobras fazem dela a maior empresa produtora mundial de óleo, entre as empresas com ações negociadas em bolsa.
1. 5. “Os escândalos associados à investigação” da Lava-Jato “geram o risco de que a estatal enfrente mais dificuldades para obter financiamento do mercado externo, o que pode inviabilizar o cumprimento do cronograma de seus projetos.”
A Petrobras realizou, no ultimo mês, uma série de operações financeiras com bancos brasileiros e estrangeiros, o Chinese Development Bank e o mercado de capitais, conseguindo levantar alguns bilhões de dólares, refletindo uma clara retomada da confiança dos mercados financeiros nas perspectivas futuras da empresa. Agora, nas proximidades do São João, ela deverá apresentar seu plano de negócios para os próximos cinco anos, onde haverá uma redução do volume de investimentos, uma maior concentração nos negócios de exploração e produção de petróleo, redução de sua presença em outros setores, como o de energia, biocombustíveis, petroquímica e fertilizantes, além de uma concentração de investimentos no Brasil.
Espera-se com isto que no médio prazo as dificuldades de seu endividamento, decorrentes do represamento dos preços de combustíveis em 2012-2014, venham a ser superadas e a empresa possa viabilizar a expansão de seus negócios, que têm uma potencialidade ímpar entre as grandes petrolíferas do mundo.
1. 6. “Restam, ainda, mais de cem mil quilômetros quadrados a licitar nessa área, cuja exploração e desenvolvimento demandarão centenas de bilhões de dólares, quantia muito além da capacidade financeira da Petrobras pelos próximos anos.”
O endividamento da Petrobras cresceu, relativamente ao seu fluxo de receitas, porque durante 2012-2014 os preços da gasolina e do diesel ficaram abaixo dos preços internacionais, enquanto o mercado interno crescia, obrigando a importações de derivados para atender a demanda local. A limitação da capacidade de refino brasileira impedia o atendimento, com os custos do petróleo do Brasil, obrigando a importação de derivados com preços muito mais altos do que os vendidos no pais, fazendo uma grande drenagem do caixa.
Resolvido esta defasagem no final de 2014 e mantendo a politica de ajustes dos preços nacionais com os internacionais, o caixa se restabelecerá e o endividamento se ajustará.
O ajuste do Plano de Negócios, que se anuncia para agora, e as medidas de contenção de gastos operacionais, focará a atividade da companhia nas atividades mais lucrativas, acelerando o ajuste financeiro. Haverá atraso na curva de produção e as importações de derivados devem aumentar, pois não há expectativa de aumento da capacidade de refino.
O que fica evidente é que o ajuste de curto prazo não necessariamente afetará a capacidade da empresa, no longo prazo, captar os recursos necessários para o desenvolvimento de seu enorme potencial de reservas.
Exatamente porque a área ainda a prospectar no Pré-sal é imensa, torna-se potencialmente mais importante do que nunca manter a Petrobras como operadora única, para não perdermos a perspectiva de integrar o conhecimento acumulado aos novos dados geológicos das áreas que serão prospectadas, o que permitirá reduzir os riscos dos novos prospectos, mantendo o alto índice de sucesso na exploração do Pré-sal.
1. 7. “É praticamente consensual entre os especialistas da indústria do petróleo, dentro e fora do Governo, que o atual modelo de partilha de produção mostrou-se contraproducente”.
Este argumento demonstra que o objetivo é desmontar o marco regulatório e não apenas aliviar” o caixa da Petrobras. O projeto do Senador Serra não tem nada a ver com o contrato de partilha, versando sobre a operação única e os 30% mínimos do investimento.
A critica ao contrato de partilha é completamente infundada, uma vez que somente há um contrato deste tipo – o campo de Libra, não se podendo atribuir à forma de contratação as eventuais dificuldades do setor.
1. 8. Benefícios sociais e interesse nacional
A combinação da operadora única com o contrato de partilha garante que a maior parte dos fluxos de renda provenientes da exploração do Pré-sal esteja sob controle do Governo, possibilitando a sua utilização em benefícios sociais e de acordo com as estratégias nacionais. Múltiplos operadores tornam esta função mais complexa.
O sucesso de 100% de acerto em descobertas no Pré-sal está calibrado pelo “know how” desenvolvido pela Petrobras, condicionado ao domínio do conhecimento geológico em toda a área de ocorrência do Pré-sal.
Caso o conhecimento geológico em cada bloco exploratório, ou campo, seja pulverizado entre múltiplos operadores, não só a Petrobras e o Brasil perderão a oportunidade de continuar integrando dados e dominando o conhecimento – que em última análise beneficia também para os sócios investidores em cada consórcio – como também nenhum outro operador terá condição de construir tal conhecimento, pela falta do saber ancestral específico nesse tema e pela história e características intrínsecas de como foi construído esse “know how”.
Perdem todos!